segunda-feira, 14 de outubro de 2013

TROFÉU CARLOS CÂMARA: ´Oscar´ do teatro

Em 27ª edição, prêmio contempla os destaques da cena local em 2012 e homenageia grandes dramaturgos
Intitulado por alguns membros do cenário teatral como o "Oscar" das artes cênicas cearense, o Troféu Carlos Câmara e a cerimônia de revelação dos Destaques do Ano chega à sua 27ª edição. A premiação acontece no Teatro do Sesc Emiliano Queiroz amanhã, dia 15, a partir das 19h30.

Comandada pelo ator, autor e fundador do grupo Quimeras de Teatro, Antônio Marcelo, a solenidade agracia, este ano, 40 expoentes artísticos. Somente com o Troféu Carlos Câmara, a comenda maior da cerimônia, já foram agraciadas 54 celebridades. Oswald Barroso e Graça Freitas (os dois primeiros nas fotos abaixo) são os contemplados desta edição. Carri Costa, Haroldo Serra, Emiliano Queiroz e Nadir Papi Saboya são exemplos de grandes nomes já premiados.

Expoentes

Oswald Barroso é poeta, jornalista, folclorista, teatrólogo e pesquisador de cultura popular. No currículo, além de múltiplas formas de expressão e da consultoria a muitos grupos teatrais, constam 23 livros publicados, dentre artigos, biografias, poesia, textos para teatro e reportagens.

Destacam-se Reis de Congo - Teatro Popular Tradicional (1997), Memória do Caminho (2006), Dormir Talvez Sonhar (2007) e Entre Ritos, Risos e Batalhas (2011).

Também escreveu 20 peças teatrais, como A Irmandade da Santa Cruz do Deserto (1987), Corpo Místico (1997) e A Farsa do Diabo que queria ser gente (2011). A peça Auto do Caldeirão (2004), encenada pelo grupo potiguar Alegria Alegria, teve mais de 500 apresentações em todo o Nordeste.

Com mais de trinta anos de carreira, o Troféu Carlos Câmara não é o primeiro prêmio a reconhecer a relevância de suas obras. Barroso já recebeu o Prêmio Estado do Ceará (1985), o Prêmio Estímulos à Dramaturgia (1996) e a Medalha Brasileira Folclorista Emérito (2008), concedida pela Comissão Nacional de Folclore.

Também homenageada com o Carlos Câmara, a atriz, diretora e produtora teatral Graça Freitas é uma das fundadores do grupo Formosura de Teatro, criado em 1985 junto ao diretor Chico Alves, no afã de viver das artes cênicas no Ceará. A companhia buscou, em sua arte sobre o palco, misturar as linguagens do teatro tradicional e o de bonecos. A estética surgiu, a princípio, como opção para minimizar os custos. Acabou tornando-se identidade.

O Formosura também se preocupou em trabalhar com a sociedade e não somente para ela. Transformado em associação, passou a desenvolver oficinas de formação com filhos de mulheres presidiárias, por meio de uma parceria com o programa Comunidade Solidária, do Governo Federal. Graça foi presidente da Federação de Teatro Amador do Ceará, de 1985 a 1987 e em 1988 assumiu a diretoria da Confederação Nacional de Teatro Amador. Na 27ª edição do prêmio, outros 40 artistas serão reconhecidos pelo trabalho realizado em 2012. São 16 categorias para premiação, como ator, atriz, autor, direção, produção e figurino.

Histórico

O nome do prêmio é também uma homenagem. Carlos Torres Câmara (1881 - 1939), um dos maiores ícones do teatro cearense, deixou seu legado principalmente como dramaturgo e diretor.

Câmara entrou no mundo das artes cênicas aos 16 anos, em 1898, quando ingressou no "Grêmio Taliense de Amadores". Nesse mesmo ano, deu início a uma carreira literária que culminou no cargo de diretor da revista "A Estreia".

Alguns dos espetáculos mais populares nos teatros de Fortaleza no começo do século XX foram pensados de dentro do Grêmio Dramático Familiar, fundado por ele ainda em 1918. Após obter sucesso com essas peças, Câmara entrou para o quadro de sócios da Sociedade Brasileira de Autores Teatrais em 1921, tornando-se seu representante no Ceará até 1924. O troféu que leva seu nome celebra, desde 1989, o trabalho das personalidades que contribuem para o desenvolvimento do teatro.

Mais informações:

Solenidade Troféu Carlos Câmara - Destaques de 2012. Amanhã, dia 15, no Teatro Sesc Emiliano Queiroz (Av. Duque de Caxias, 1701 - Centro). Gratuito. Contato: (85) 8680.5492 ou 8710.9434

Valorização de nomes locais

Criado em 1986 para marcar os dez anos do grupo Balaio, o Troféu Carlos Câmara vem sendo celebrado anualmente.

Trata-se da mais antiga premiação voltada para as artes cênicas do Estado, com 26 edições contabilizadas. Por muitos anos, a cerimônia foi organizada pelo diretor Marcelo Costa. Há três anos, contudo, o dramaturgo passou o bastão para Antônio Marcelo, fundador do grupo Quimeras de Teatro. "Marcelo me falou das dificuldades de tomar conta do evento e então me ofereci para ajudar. Acho que no Nordeste todo temos um complexo de inferioridade em relação ao que vem de fora. O troféu é uma forma de valorizar os de casa, os cearenses, por isso a importância de mantê-lo a todo custo", detalha o organizador.

A princípio, a entrega acontecia sempre nos dias 23 de março, para celebrar o Dia do Teatro.

"Contudo, com o fechamento do teatro do Ibeu, onde tradicionalmente acontecia a cerimônia, ficou difícil conciliar a data com as pautas de outros teatros", recorda. De acordo com Marcelo, a ideia é que o evento passe a acontecer sempre no primeiro sábado dos mês de abril, que passa a ser conhecido como o Dia do Teatro Cearense.

Eleição

Segundo Marcelo, o maior desafio é sempre eleger os destaques. "Para o recebimento do troféu, é preciso que se trate de um nome tradicional, com mais de dez anos de teatro. Nesse caso, é mais fácil, já que qualquer cearense com uma década de dedicação é, de fato, merecedor. Mas os destaques reúnem os profissionais que se saíram bem no ano anterior, sejam eles de grupos tradicionais ou jovens atores, em início de carreira", explica Marcelo.

Entre os 40 agraciados desse ano, oito deles são definidos por uma comissão, configurando uma categoria especial. "São membros da imprensa, líderes de movimentos sociais ou mesmo atores e diretores que merecem uma homenagem em particular", define. Este ano, alguns desses nomes são: Silvia Moura, pela luta à frente do Movimento Arte e Resistência (Mar); Walden Luiz, por seus 50 anos de teatro; e o grupo Abre Alas, que comemora 20 anos de atividades ininterruptas.

Antônio Marcelo participou do prêmio pela primeira vez em 1998. "Era o meu primeiro ano de teatro. Fiquei impressionado, não fazia ideia da dimensão desse prêmio. Ele é mesmo o Oscar do teatro cearense", reforça.

Comendas

Além do Troféu Carlos Câmara, são poucas as premiações nessa linha. É de costume que alguns festivais façam homenagens a personalidades do teatro local, mas não necessariamente através de cerimônias e entregas de troféus. Nesse sentido, destaca-se também o Fecta, Festival de Esquetes da Companhia Teatral Acontece, que anualmente entrega o Troféu João Andrade Joca, para algum artista ou companhia local; e a Comenda Carri Costa para personalidades que, de algum modo, apoiaram a cultura naquele ano.

O Troféu João Andrade Joca existe desde a primeira edição do Fecta, já a Comenda Carri Costa surgiu em 2010, quando a Companhia Cearense de Molecagem, do diretor, fazia aniversário. "Carri foi o pioneiro em festivais de esquetes, então era uma homenagem justa", afirma Almeida Júnior, organizador do festival. 


Diário do Nordeste

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