"A
santidade está em deixar que o Senhor escreva a nossa história", disse o
Papa Francisco aos 17 de dezembro de 2013, querendo dizer que é dever do
cristão se esforçar para viver bem neste mundo, consagrando cada dia de sua
vida, no compromisso com o projeto de Jesus de Nazaré, na mais absoluta certeza
de que o mistério da encarnação é a aurora do dia interminável; indo na direção
da fulgurante glória do redentor, a conduzir a humanidade ao bom caminho,
antevendo pela fé a luz inigualável, que jamais se extinguirá.
A partir desta
premissa como é belo e maravilhoso compreender o 266º papa da era cristã da
humanidade, sinal de vida e esperança para o mundo, eleito no dia 13 de março
de 2013, no quinto escrutínio daquele Conclave de 115 Cardeais, com o nome de
Jorge Mario Bergoglio sj, primeiro latino americano, primeiro jesuíta e
primeiro a chamar-se Francisco, na história de dois mil anos de cristianismo. Percebe-se
logo de início que quer ficar longe da pompa e tudo mais que foi introduzido no
decorrer da nossa civilização cristã, a qual colocou o Papa no patamar bem
elevado, no patamar de “soberano”.
Daí a escolha do
nome Francisco não ter sido por acaso. Foi uma clara decisão de um programa de
governo para a Igreja Católica, tendo diante dos olhos, na mente e no coração a
força da figura humana de Francisco de Assis, exemplo e referencial, que viveu
de um modo radical, a pobreza evangélica, desejando dizer as pessoas que é
possível deixar a inércia e fazer, através do despojamento generoso, seu caminho
de discernimento, tão proclamado pelo Bispo de Roma.
O Sumo
Pontífice indica o caminho, contido no início do Evangelho de Marcos, no qual Jesus,
caminhando à beira do mar da Galileia, chamou os pescadores Simão e André,
Tiago e João e os constituiu discípulos, com a missão de levar adiante o
anúncio da boa nova da salvação, dizendo-lhes que o Reino Deus, doravante
anunciado por eles, chegasse a todos, sem fazer distinção alguma. O Senhor Jesus
planejava para eles não mais aquele mar bem conhecido, mas um mar completamente
novo, simbolizando a humanidade inteira, no qual eles iriam ser protagonistas
de uma grande pescaria; que tinha chegado a hora de superar as diferenças e
aproximar muitos irmãos e irmãs para Deus (cf. Mc 1, 16-20).
Como é
importante o nome por ele definido: Bispo de Roma! É claro que nada impede de chamá-lo
de Vigário de Cristo na terra, Pastor Universal, Romano Pontífice, Sumo
Pontífice, Augusto Pontífice. Sucessor de Pedro, Príncipe dos Apóstolos, Santo
Padre, Sua Santidade, Chefe Visível da Igreja, Patriarca do Ocidente, Primaz da
Itália e ainda Servos dos Servos de Deus. Ele se apresentou, porém, com o Bispo
de Roma, nesta expressão: “parece que meus irmãos cardeais foram buscar o Bispo
de Roma quase no fim do mundo”.
E aqui um olhar
crítico para Francisco, que tem um coração grande, coração de pastor, que fala ao
mundo, na sua conjuntura espiritual conflituosa, sem esquecer o econômico e o
social, lá no âmago do coração de seu rebanho. “Agora iniciamos juntos este
caminho, bispo e povo. Este caminho da Igreja de Roma, que preside na caridade
a todas as Igrejas, um caminho de fraternidade, de amor, de confiança entre nós.
Rezemos uns pelos outros. Rezemos pelo mundo, para que haja uma grande
fraternidade”.
Francisco quis
imprimir na mente e no coração do povo de Deus, que a mesma simplicidade por
ele vivida em Buenos Aires, iria procurar vivenciá-la no Vaticano. Fala ao
mundo como pai dos amigos de Jesus e de todos aqueles que abraçam a fé ou não,
mostrando ao mundo o sentido da catolicidade. É claro, que o desejo de se viver
e ser coerente com seu batismo é imprescindível para os cristãos, realizando a
vontade do Pai, numa bela e rica experiência de que Deus é amor, no seguimento dos
passos de Jesus de Nazaré.
Com a tonalidade
que deu início sua missão de pastor, as mesmas palavras de simplicidade, o
filho de uma família simples e numerosa, residentes do bairro humilde de
Flores, nascido aos 17 de dezembro de 1936, tendo como pais, o ferroviário
Mário Bergoglio e a dona de casa Regina Sivori, optando por morar num
apartamento da Casa Santa Marta, albergue dos cardeais, fazendo suas refeições
com os demais moradores da mesma, deslocando-se ao Palácio Apostólico para
trabalhar, para as audiências e visitas de autoridades, dos chefes de estados
ou representantes diplomáticos, manifestou ao mundo, nesta frase do Pobrezinho
de Assis: “os pobres são meus mestres”, para que o mundo inteiro saiba.
Ao divulgar uma
carta neste dia 13 de janeiro de 2014, sobre os 19 cardeais que irá
constituí-los no dia 22 de fevereiro deste ano em curso, o Papa Francisco
pediu-lhes simplicidade e humildade de coração: “O cardinalato não significa
uma promoção, nem uma honra, nem uma condecoração, é simplesmente um serviço
que exige ampliar o olhar e alargar o coração”. E ao saudar o corpo diplomático no
mesmo dia, falou com veemência contra o aborto, qualificando-o como “prova da
cultura do descartável, que desperdiça as pessoas da mesma forma que desperdiça
o alimento; é horrível quando você pensa que há crianças vítimas do aborto, que
nunca verão a luz dia”. Que a nossa oração por ele seja insistente, atendendo
seu pedido constante. Assim seja!
*Padre da Arquidiocese de Fortaleza, escritor, articulista, blogueiro, membro da Academia Metropolitana de Letras de Fortaleza, da Academia de Letras dos Municípios do Estado Ceará (ALMECE) e Vice-Presidente da Previdência Sacerdotal - Pároco de Santo Afonso - geovanesaraiva@gmail.com
Autor dos livros:
“O peregrino da Paz”
e “Nascido Para as Coisas Maiores” (centenário de Dom Helder Câmara);
“A Ternura de um
Pastor” - 2ª Edição (homenagem ao Cardeal Lorscheider);
“A Esperança Tem
Nome” (espiritualidade e compromisso);
"Dom Helder:
sonhos e utopias" (o pastor dos empobrecidos);
"25 Anos sobre
Águas Sagradas (coletânea de artigos e fotos).
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