domingo, 31 de agosto de 2014

Padre brasileiro fala sobre o catolicismo na Coreia

Aparecida, SP, 31 ago (A12/SIR) - Cinco meses depois de se mudar para a República da Coreia com o objetivo de aprimorar o idioma, Padre Daniel Hayang Lim Koo, vigário da Paróquia Nossa Senhora do Carmo na Arquidiocese de São Paulo, testemunhou de perto a visita do Papa Francisco à nação asiática entre os dias 13 e 18 de agosto.

O país de maioria budista tem apenas 10,7% de cristãos católicos, mas segundo padre Koo, “há um grande sentimento de respeito e fraternidade entre os budistas e católicos, tanto por parte dos fiéis quanto por parte dos seus líderes”. Nesta entrevista concedida ao A12.com, o sacerdote de ascendência coreana relata um pouco de sua experiência no país que possui 35 bispos e 4.261 sacerdotes, distribuídos em 1.673 paróquias.
 
A12 - O que o levou a partir para a Coreia e quando pretende voltar ao Brasil?
Padre Koo - Quando estava exercendo o ministério como Vigário no Brasil, comecei um trabalho junto ao povo coreano que morava nos arredores da paróquia. Tal trabalho consistia de Missa mensal em coreano, atendimento e confissões, bênção de casas e também casamentos. Durante este trabalho, percebi que o meu coreano não estava adequado suficientemente para um trabalho pastoral mais sério, o que me levou a buscar aprender o coreano de forma mais fluente e adequada. Assim, obtive a licença de Dom Odilo Scherer para fazer este curso na Coreia, fato que agradeço imensamente e sem o qual não poderia estar aqui. Ficarei aqui na Ásia até fevereiro de 2015, quando retorno para São Paulo.
 
A12 - Como é a comunidade em que atua? Quais são as atividades pastorais realizadas?  
Padre Koo - Como estou aqui para estudar, não pude participar ativamente de nenhuma atividade pastoral, mas ajudo nas missas universitárias, em uma paróquia perto do convento, onde celebro missas, e em um convento de irmãs distante de Seul, na área rural, e também nas confissões. Estou residindo em um convento franciscano em Seul, e participo então das atividades desta comunidade. Eles desenvolvem um trabalho junto com algumas paróquias, possuem também várias pastorais que envolvem não somente católicos, mas também leigos de outras religiões, além de possuírem um curso de teologia para leigos. Também tenho ajudado um convento de freiras que exercem um dificílimo, mas necessário, trabalho junto aos idosos, onde administram um bonito Centro para a Terceira idade. Há assistência médica, centro de convivência, formação espiritual e catequese, além de exercerem, quem pode, trabalhos de ajuda comunitária e social.
 
A12 - Tem tido contato com brasileiros?
Padre Koo - Tenho encontrado alguns brasileiros na Universidade em que estou estudando coreano, e também nas missas universitárias, mas todos eles são estudantes de língua coreana.
 
A12 - Como é o catolicismo neste local? Os católicos são hostilizados por serem minoria?  
Padre Koo - O catolicismo aqui na Coreia está bem incrustado na história do povo coreano. Apesar de serem minoria, eles exerceram grandes trabalhos, especialmente nos momentos mais críticos da história do povo coreano, durante a ditadura militar em 1960-1980, e também durante a ocupação militar japonesa na 2ª Guerra Mundial, além de estarem envolvidos na ajuda constante aos coreanos que vivem na Coreia do Norte. O grande protagonismo da Igreja aqui na Coreia vem dos seus leigos que atuam vivamente na política e também nas atividades sociais e de reivindicações junto ao povo para assuntos de justiça social e paz. A história da Igreja aqui na Coréia começa exatamente no protagonismo dos leigos que vão buscar a fé fora do país, movidos tão somente pela fé despertada na leitura dos livros sobre o catolicismo e pela Bíblia em chinês. Vão então à China buscar saber exatamente como deve se vivenciar a fé católica de maneira correta, e somente então trazem os primeiros missionários, que já encontram uma Bíblia traduzida para a língua local. Encontram a perseguição por parte do governo da época e o subsequente martírio. Assim nasce a Igreja na Coreia, que vê dentre os seus, um jovem assíduo na fé, se tornar o primeiro padre desta comunidade, e lidera esta comunidade até o seu martírio com apenas 24 anos. Portanto, desde o século XVII, a Igreja possui uma história que se enraíza junto à história do povo coreano, de forma que, apesar de ser minoria, são extremamente respeitados e possuem um alto grau de participação e transformação na história do povo coreano. Hoje, apesar de a grande maioria ser de protestantes e budistas, não há hostilidade por parte do povo, que possui uma história de participação e atuação conjunta com a Igreja. Aliás, há um grande sentimento de respeito e fraternidade entre os budistas e católicos, tanto por parte dos fiéis quanto por parte dos seus líderes.  
 
A12 - O que mudou com a visita do Papa Francisco, há cerca de 15 dias?
 
Padre Koo - A visita do Papa Francisco transformou a visão do povo sobre a Igreja aqui - um pouco esquecida, e também distraídos com uma vida voltada ao materialismo. A Igreja teve a sua voz ouvida e o seu rosto conhecido através do carinho e mensagens do Papa, pelas quais o povo coreano ganhou grande alegria e consolo para as suas dores. É um momento em que a sociedade coreana enfrenta grandes problemas relacionados à sua juventude e à vida espiritual, que hoje parece estar relegada ao segundo plano. Os coreanos puderam ver que há algo mais do que números e metas econômicas, que a vida possui um valor incalculável, e uma luz se acende para um futuro onde há algo pelo qual vale a pena sacrificar a sua vida inteira.
SIR

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