domingo, 31 de agosto de 2014

Possíveis vetores da tuberculose nas Américas

Lobos-marinhos podem ter se contagiado de animais hospedeiros na África e transferiram pelo Atlântico.

Os lobos-marinhos podem ter introduzido a tuberculose nas Américas séculos antes de Cristóvão Colombo pisar no continente, afirmam cientistas.
Um novo estudo desafia a teoria de que foram os europeus que introduziram a tuberculose no Novo Mundo, onde a doença matou milhões de indígenas americanos, assim como a tosse coqueluche, a varíola e a gripe.
Vinte milhões de seres humanos viviam nas Américas antes da chegada dos europeus, e 95% morreram de doenças, para as quais não tinham imunidade.
No entanto, os últimos dados revelam que a tuberculose "pode ter desempenhado um papel na morte de indígenas americanos, antes da chegada dos europeus", segundo a Fundação Nacional de Ciência dos Estados Unidos (NSF, na sigla em inglês), que ajudou a financiar a pesquisa.
Uma equipe de especialistas internacionais analisou o DNA das bactérias em três esqueletos humanos que datam de mil anos, encontrados no Peru, e descobriram um tipo de tuberculose similar a cepas que atualmente afetam focas, lobos e leões-marinhos.
A descoberta revelou "uma via de entrada plausível, embora inesperada, no Novo Mundo", escreveram os autores do estudo.
Isto indica que os lobos-marinhos podem ter se contagiado de animais hospedeiros na África, onde a doença aparentemente se originou, e que chegaram nadando pelo Atlântico até a América do Sul.
Os mamíferos provavelmente foram comidos por habitantes do litoral, que por sua vez contaminaram outros com a bactéria, acrescentou o estudo, publicado semana passada na revista "Nature".
"A fonte da tuberculose no Novo Mundo foi, durante muito tempo, uma interrogação para os cientistas", afirmou, em um comunicado, a diretora do programa de Biologia Antropológica da NSF, Elizabeth Tran.
"Este estudo traz provas importantes de que os mamíferos marinhos são os possíveis culpados", completou.
A análise também revelou que a tuberculose na forma como a conhecemos hoje é muito mais recente do que se pensou inicialmente e pode ter se desenvolvido na África há 6.000 anos.
- Uma cepa de tuberculose extinta -
O estudo dá respostas a uma certa quantidade de questionamentos sobre a tuberculose nas Américas.
Geneticamente, cepas modernas de tuberculose do Novo Mundo estão estreitamente relacionadas com as europeias, o que levou à conclusão de que os europeus introduziram a doença após o primeiro contato do navegador genovês Cristóvão Colombo com os ameríndios, em 1492.
No entanto, há provas arqueológicas em esqueletos e múmias de tuberculose presente séculos antes.
Alguns sugeriram que a doença pode ter se disseminado entre os primeiros humanos da África, antes de a ponte terrestre do estreito de Bering inundar entre a Sibéria e o Alasca, no final da última glaciação, há 11.700 anos.
Mas isso não chega a explicar a semelhança genética com as cepas europeias, ou o fato de que a tuberculose provavelmente é uma doença mais recente.
O último estudo sobre o tema concluiu que o bacilo da tuberculose, encontrado em três esqueletos, era diferente das cepas atualmente presentes nas Américas.
Embora tenha sido trazida pelos mamíferos marinhos, a doença aparentemente foi substituída por cepas europeias.
"A conexão com lobos e leões-marinhos é importante para explicar como esse patógeno adaptado aos mamíferos que se desenvolveu na África há 6.000 anos pode ter chegado ao Peru 5.000 anos depois", disse o coautor Johannes Krause, da Universidade de Tubinga, na Alemanha.
"Uma introdução por via marinha parece ser a forma mais provável de a doença ter alcançado os seres humanos nas Américas milhares de anos depois da inundação da ponte de terra de Bering, quando não eram mais possíveis movimentos terrestres para as Américas", continuou.
Mais de 8,6 milhões de pessoas tiveram tuberculose em 2012, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), e 1,3 milhão morreu dessa doença, a primeira causa de morte entre pacientes infectados com HIV.
As cepas que subexistem nos lobos-marinhos ainda podem afetar os seres humanos, embora isso ocorra raramente, afirmaram os pesquisadores.
AFP

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