segunda-feira, 6 de abril de 2015

Numa mesma sintonia

Marcus Eduardo de Oliveira

Aquecimento global: sintoma mais claro da crise ambiental.
O falso paradigma de progresso - pautado na expansão econômica e na consequente acumulação material - tem levado a atividade econômica a praticar um crescimento “quantitativo” e unidimensional, quando o sensato, na procura por melhorar as condições de vida dos mais necessitados, visando proporcionar bem-estar, seria obter desenvolvimento “qualitativo” e multidimensional.
É certo, contudo, que só haverá verdadeiro paradigma de progresso quando a economia social (poder de compra, emprego, aposentadoria, previdência social) e a economia ecológica (recursos naturais, serviços ecossistêmicos, patrimônio ambiental) estiverem numa mesma sintonia, compartilhando uma mesma perspectiva, um mesmo horizonte; conversando num mesmo idioma, longe, portanto, de uma atividade econômica que agride a biodiversidade.
A crise ambiental, ora em curso, deixa cada vez mais notória a seguinte mensagem: não é possível conciliar crescimento econômico com as alterações climáticas; ainda que o conceituado Relatório Stern (Stern Review on the Economics of Climate Change) julgue que “não é incompatível a luta contra a mudança climática com a promoção do crescimento”.
O aquecimento global – sintoma mais claro dessa crise ambiental que mencionamos -, resultado inequívoco de um processo crescente de degradação entrópica da natureza (de matéria e energia) gerada pelo processo de produção industrial que destrói os ecossistemas produzindo emissões crescentes de gases de efeito estufa (GEE), precisa ser revertido o quanto antes.
Atrelado a isso, têm-se que o processo econômico produz calor pelo consumo de natureza, que se degrada em calor tal qual descreve a lei da entropia. Assim, uma economia que entra acelerando na rota do crescimento contínuo produz mais calor que é aprisionado pelo efeito estufa, aquecendo a atmosfera, provocando na ponta final catástrofes ecológicas e destruição ambiental.
Estudos realizados mostram que nos últimos 160 anos a temperatura média da Terra sofreu uma elevação de 0,5 ºC e, se persistir a atual taxa de poluição atmosférica (no mundo, a cada minuto, 10 mil toneladas de dióxido de carbono são lançadas na atmosfera), prevê-se que entre os anos 2025 a 2050 a temperatura sofrerá um aumento de 2,5 a 5,5 °C.
As principais conseqüências disso seriam: alteração das paisagens vegetais, que caracterizam as diferentes regiões terrestres, e o derretimento das massas de gelo, provocando a elevação do nível do mar e o desaparecimento de inúmeras cidades e regiões litorâneas.
Na Antártida, cerca de 3 mil Km2 de geleiras viraram água entre 1998 e 1999. Dezenas de ilhas da Oceania, entre elas Fiji, Nauru, Tuvalu e Vanuatu, correm o risco de submergir com o aumento do nível dos oceanos. No Recife, capital de Pernambuco, o contorno da praia está encolhendo ano a ano.
Desses fatos, emerge uma constatação: para “custear” o crescimento econômico promove-se a destruição ecológica. Para fazer a economia expandir, minam-se as bases de sustentabilidade do Planeta, destruindo os frágeis equilíbrios ecológicos dos quais depende a conservação dos ecossistemas e da própria vida.
Isso explica, em linhas gerais, o fato de a ciência econômica “dominar” o mundo através do automatismo do mercado, tratando a natureza como mero e simples objeto de trabalho, decodificada no linguajar dos economistas como externalidades
(*) Economista e professor de economia da FAC-FITO e do UNIFIEO (São Paulo). Especialista em Política Internacional pela (FESP) e mestre pela (USP) | prof.marcuseduardo@bol.com.br

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