quarta-feira, 30 de setembro de 2015

SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE MISSIOLOGIA PREPARA 5º CONGRESSO MISSIONÁRIO AMERICANO

O Evangelho, fonte de reconciliação e comunhão. Este é o tema do 1º Simpósio Internacional de Missiologia que acontece ao longo desta semana, 28 de setembro a 01 de outubro, em Porto Rico
Por Jaime C. Patias
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“O evangelho, fonte de reconciliação e comunhão” é tema do 1º Simpósio Internacional de Missiologia que acontece ao longo desta semana, 28 de setembro a 01 de outubro, em Porto Rico.
O evento se propõe a refletir sobre as fontes bíblicas e teológicas da missão que animam o testemunho e o compromisso da Igreja missionária. Ao mesmo tempo, deseja construir a fraternidade e reavivar a koinonia a serviço da reconciliação social, cultural e religiosa.
000 a a simposio1Participam cerca de 100 representantes das Pontifícias Obras Missionárias (POM), organismos e conferências episcopais de 21 países do Continente americano. O estudo se realiza na Casa Manresa dos Jesuítas, na cidade de Aibonito, um dos 78 municípios de Porto Rico, país composto por três ilhas no mar caribenho.
Na cerimônia de abertura, o núncio apostólico da República Dominicana e delegado apostólico em Porto Rico, o nigeriano dom Jude Thaddeus Okolo, recordou que o Simpósio é uma das etapas no caminho de preparação para o 5º Congresso Missionário Americano (CAM 5) previsto para o mês de julho de 2018, em Santa Cruz de la Sierra na Bolívia.
Dom Jude lembrou também que as POM são obras do Santo Padre para a missão. “O papa Francisco nos convida a sair dos nossos escritórios para ir ao encontro do povo. E isso nós estamos aprendendo a fazer. Custa muito, mas vale a pena. O mundo globalizado exige uma nova evangelização", disse o núncio. "Que este Simpósio seja uma oportunidade para refletir sobre a dimensão universal da Igreja”, complementou.
000 a simposio mario 6Por sua vez, dom Mário Carnello, presidente do Departamento de Espiritualidade e Missão do CELAM, citou o Documento de Aparecida, onde afirma: “Conhecer a Jesus é o melhor presente que qualquer pessoa pode receber; tê-lo encontrado foi o melhor que ocorreu em nossas vidas, e fazê-lo conhecido com nossa palavra e obras é nossa alegria” (DAp 29). Dom Carnello observou que não existe evento católico com maior abrangência do que os Congressos Missionários Continentais. E finalizou: “desejo uma reflexão que apaixone para acender a chama da missão”.
O presidente da Comissão Episcopal para a Missão em Porto Rico, o jesuíta dom Álvaro Corrada del Río, recordou que Porto Rico, desde 1512, teve a presença de um bispo, dom Alonso Manso. Ele fundou o primeiro hospital, o único que em mais de 500 anos, nunca deixou de atender. “Temos raízes profundas e agora, o papa é deste Continente”, disse. “A nossa missão é continuar a enraizar a Igreja nesta época de globalização. Temos Cristo que é a própria Missão de Deus e com o Espírito Santo vamos trabalhar com alegria e muita fortaleza”, argumentou dom Álvaro.
000 a simposio sc_0065Padre José Orlando Camacho Torres, diretor das POM em Costa Rica deu as boas vindas às várias delegações e lembrou que o Uruguai sediará um 2º Simpósio semelhante, em fevereiro de 2016. Em sua opinião, “estes eventos fortalecem a unidade no Continente, pois o Evangelho é fonte de comunhão e reconciliação. Com essa comunhão, podemos chegar às nossas igrejas e cumprir com o serviço que o Senhor nos confiou”, sublinhou padre José Orlando. Porto Rico participa do Simpósio com 32 representantes de suas seis dioceses.
Já a delegação da Bolívia é de 10 pessoas. Dom Adolfo Bittschi, bispo auxiliar de Sucre e membro da Comissão Teológica do CAM 5, trouxe uma saudação especial da Igreja naquele país. Destacou também a recente visita do papa Francisco aos países da Américas do Sul, do Caribe e do Norte. Falou dos símbolos do CAM 5: a Cruz missionária que expressa o amor sem limites de Cristo por toda a humanidade e as relíquias da primeira Bem-aventurada da Bolívia, Nazaria Ignacia, religiosa fundadora de uma congregação para a missão.
Dom Adolfo, explicou também, que o Simpósio em curso aborda o tema do CAM 5: “A alegria do Evangelho, coração da missão profética, fonte de reconciliação e comunhão”, e o lema: “América em missão, o Evangelho é alegria!”.
000 a simposio missaNa missa de abertura, o presidente da Conferência Episcopal de Porto Rico, dom Roberto Octavio González Nieves, inspirado nas leituras do dia, destacou que em meio a tantos famintos, pobres, leprosos, feridos e doentes, os discípulos estavam preocupados com quem deles seria o mais importante. “O desejo de grandeza, de querer ser o centro de tudo, são tentações que devemos vencer no nosso trabalho missionário, pois são impedimentos para a evangelização”, alertou o bispo. “A Igreja nasceu missionária e para existir deve seguir sendo missionária, entre os pequenos, os que vivem à margem do mundo, para lhes dizer que eles são os mais importantes para Deus e para a Igreja”. E referindo-se ao tema do Simpósio reafirmou a necessidade de “uma Igreja fonte de reconciliação e comunhão”.
Do Brasil participam do Simpósio o diretor das POM, padre Camilo Pauletti e o secretário da União Missionária, padre Jaime C. Patias. A missa de encerramento, nesta quinta-feira, 01 de outubro, será na paróquia São José, no centro de Aibonito.
Fonte: www.pom.org.br

DIA DAS COMUNICAÇÕES SOB O TEMA DA MISERICÓRDIA

Comunicação e Misericórdia: um encontro fecundo.
Por Radio Vaticano
Este é o tema escolhido pelo Papa Francisco para o 50° Dia Mundial das Comunicações Sociais, a decorrer no domingo 8 de maio, Solenidade da Ascensão do Senhor.
O primeiro Dia Mundial das Comunicações Sociais foi celebrado pela primeira vez no dia 7 de maio de 1967. A mensagem do Papa é publicada tradicionalmente no dia  24 de janeiro, memória litúrgica de São Francisco de Sales, padroeiro dos jornalistas.
Fonte: pt.radiovaticana.va

Jaques Wagner assume Casa Civil

Segundo fonte, Dilma teria se convencido de que pagaria preço alto para manter Mercadante.
Por Lisandra Paraguassu
O ministro da Defesa, Jaques Wagner, assumirá a Casa Civil, no lugar de Aloizio Mercadante, que voltará para o Ministério da Educação, em uma decisão tomada na terça-feira pela presidente Dilma Rousseff para tentar acalmar a base do governo, disse à Reuters uma fonte do governo.
Apesar de querer manter Mercadante na Casa Civil, a presidente teria se convencido de que o preço a pagar por sua permanência seria politicamente alto, disse a fonte, sob a condição de anonimato.
"Mercadante é um ótimo quadro, mas sua saída apazigua todos os ânimos, em toda a base", afirmou a fonte.
No período que esteve na pasta, o ministro criou arestas em várias esferas, inclusive com o vice-presidente Michel Temer.
Até mesmo o líder do PT na Câmara, Sibá Machado (AC), em reunião com líderes das bancadas governistas, defendeu a saída de Mercadante --Siba defendeu também a saída de Joaquim Levy do Ministério da Fazenda e de José Eduardo Cardozo da Justiça. Apesar da reação negativa dentro do governo, as declarações do deputado foram vistas como mais um sinal do desgaste do ministro.
A presidente teve na noite de terça-feira longa conversa com Mercadante para explicar a mudança de planos --há 10 dias, a própria presidente havia garantido ao ministro que ele ficaria no cargo, apesar dos rumores de sua saída iminente.
Dilma havia convencido o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva de que precisava de Mercadante no Palácio do Planalto e Lula, depois de uma conversa com o ministro em que pediu que ele se afastasse da articulação política, concordou com sua manutenção na Casa Civil.
No entanto, a  avaliação dentro do governo é que a saída de Mercadante agora facilitará a interlocução com a base. Ao mesmo tempo, amenizará a perda da Saúde pelo PT, já que o partido recupera a Educação, uma das suas reivindicações.
Ainda não há definição sobre quem assumirá o lugar de Jaques Wagner no Ministério da Defesa.  
Reuters

Papa faz apelo para evitar execução nos EUA

Washington, 30 set (sirnoticias@hotmail.com) - O papa Francisco fez um apelo ao estado norte-americano da Geórgia para evitar a execução de Kelly Renee Gissendaner, de 47 anos, condenada pelo homicídio de seu marido, ocorrido em 1997. Em uma carta escrita pelo núncio apostólico nos Estados Unidos, Carlo Maria Viganò, o Pontífice diz não querer "minimizar a gravidade" do crime cometido pela mulher, mas "implora" pela substituição da pena de morte por uma sentença que "exprima melhor a justiça e a misericórdia".   
Gissendaner foi condenada por ter sido mandante do assassinato de seu marido, delito executado pelo seu amante, Gregory Owen, sentenciado à prisão perpétua, mas que pode ganhar liberdade condicional em 2022. Os advogados da mulher alegam que a pena de morte é "inapropriada", já que ela não cometeu de fato o homicídio.   
No entanto, uma comissão encarregada de examinar o caso rejeitou nesta terça-feira (29) a solicitação da defesa para mudar a condenação para prisão perpétua e confirmou que Gissendaner será morta com uma injeção letal, o que deve acontecer ainda hoje.   
De maneira geral, a execução de mulheres é algo raro na Justiça dos EUA. Desde 1976, quando a Suprema Corte restabeleceu a pena de morte, apenas 15 morreram, contra cerca de 1,4 mil homens.
SIR

Família e comércio: alguma relação?

A beleza da comunhão não deve ser anunciada com o estilo da autoridade, mas com o da liberdade.
Por Andrea Grillo*
Entre as surpreendentes experiências resultantes da viagem apostólica a Cuba e aos EUA, pudemos descobrir muitas coisas da força da "retórica" de Francisco. Os seus discursos são caracterizados por um grande poder de imagens, nas quais a fé e a cultura encontram uma forma para dialogar, ora seriamente, ora ironicamente, ora de modo "alto" e ora de modo "baixo".
Muitos podem ser os exemplos e, talvez, para compreendê-los seria preciso lembrar com quanto cuidado Jorge Mario Bergoglio estudou e frequentou os clássicos da literatura e colaborou com J. L. Borges. Mas basta citar um exemplo.
No discurso aos bispos no Seminário St. Charles da Filadélfia, Francisco propôs uma "longa semelhança" para explicar de que modo as mudanças sociais – e comerciais – mudaram o modo de conceber os laços familiares.
Eis o texto integral dessa longa passagem, incluindo também as palavras ditas "de improviso":
Naturalmente, o nosso modo de compreender, modelado pela integração entre a forma eclesial da fé e a experiência conjugal da graça, abençoada pelo matrimônio, não deve nos fazer esquecer a transformação do contexto histórico, que incide na cultura social – e lamentavelmente também jurídica – dos vínculos familiares e que envolve a todos nós, sejamos crentes ou não crentes. O cristão não é um 'ser imune' às mudanças do seu tempo, e neste mundo concreto, com suas múltiplas problemáticas e possibilidades, é onde se deve viver, crer e anunciar.
Até pouco tempo atrás, vivíamos em um contexto social em que a afinidade entre a instituição civil e o sacramento cristão era forte e compartilhada, eles coincidiam substancialmente e se sustentavam mutuamente. Já não é mais assim. Se eu tivesse que descrever a situação atual, tomaria duas imagens próprias das nossas sociedades. Por um lado, os conhecidos armazéns, pequenos negócios dos nossos bairros; por outro, os grandes supermercados ou shoppings.
Algum tempo atrás, podíamos encontrar em um mesmo comércio ou armazém todas as coisas necessárias para a vida pessoal e familiar – é certo que exposto pobremente, com poucos produtos e, portanto, com escassa possibilidade de escolha. Mas havia um vínculo pessoal entre o dono do negócio e os vizinhos que compravam. Vendia-se fiado, isto é, havia confiança, havia conhecimento, havia vizinhança. Fiávamo-nos do outro. Animávamo-nos a confiar. Em muitos lugares, esse negócio era conhecido como 'o armazém do bairro'.
Nessas últimas décadas, desenvolveu-se e ampliou-se outro tipo de negócios: os shopping centers. Grandes superfícies com um grande número de opções e oportunidades. O mundo parece ter se convertido em um grande shopping, onde a cultura adquiriu uma dinâmica competitiva. Já não se vende fiado, já não se pode fiar nos outros. Não há um vínculo pessoal, uma relação de vizinhança. A cultura atual parece estimular que as pessoas entrem na dinâmica de não se ligar a nada nem a ninguém. A não fiar, nem a se fiar. Porque o mais importante hoje parece que é ir atrás da última tendência ou da última atividade. Inclusive em nível religioso. O importante hoje parece ser determinado pelo consumo. Consumir relações, consumir amizades, consumir religiões, consumir, consumir... Não importa o custo nem as consequências. Um consumo que não gera vínculos, um consumo que vai além das relações humanas. Os vínculos são um mero 'trâmite' na satisfação das 'minhas necessidades'. O importante deixa de ser o próximo, com o seu rosto, com a sua história, com os seus afetos.
E essa conduta gera uma cultura que descarta tudo aquilo que já 'não serve' ou 'não satisfaz' os gostos do consumidor. Fizemos da nossa sociedade uma vitrine multicultural muito ampla, ligada somente aos gostos de alguns 'consumidores', e, por outro lado, são muitos – tantos! – os que 'comem as migalhas que caem da mesa de seus donos' (Mt 15, 27).
Isso gera uma ferida grande, uma ferida cultural muito grande. Atrevo-me a dizer que uma das principais pobrezas ou raízes de tantas situações contemporâneas está na solidão radical a que tantas pessoas se veem submetidas. Correndo atrás de um 'like', correndo atrás do aumento do número de 'followers' em qualquer uma das redes sociais, assim vão – assim vamos – os seres humanos na proposta oferecida por essa sociedade contemporânea. Uma solidão com medo do compromisso e em uma busca desenfreada por se sentir reconhecido.
Devemos condenar os nossos jovens por terem crescido nessa sociedade? Devemos anatematizá-los por viverem neste mundo? Eles devem escutar dos seus pastores frases como: 'Tudo no passado era melhor', 'O mundo é um desastre e, se continuar assim, não sabemos aonde vamos parar'? Isso me parece um tango argentino! Não, eu não acho que esse seja o caminho.
Nós, pastores atrás das pegadas do Pastor, estamos convidados a buscar, acompanhar, levantar, curar as feridas do nosso tempo. Olhar para a realidade com os olhos daquele que sabe que é interpelado ao movimento, à conversão pastoral. O mundo hoje nos pede e exige essa conversão pastoral. 'É vital que hoje a Igreja saia para anunciar o Evangelho a todos, em todos os lugares, em todas as ocasiões, sem demora, sem repugnâncias e sem medo. A alegria do Evangelho é para todo o povo, não se pode excluir ninguém' (Evangelii gaudium, 23). O Evangelho não é um produto para se consumir, ele não entra nessa cultura do consumismo."
Esse longo trecho apresenta uma série de considerações muito importantes. Mas quero me deter apenas sobre uma. O "negócio" torna-se, nesse raciocínio por semelhança, um dos "lugares de compreensão da família". É evidente que, no discurso do Papa Francisco, podem-se encontrar diferentes camadas:
a) O uso "parabólico" da imagem: entrando nas dinâmicas dos diversos tipos de "negócios", entendem-se, de modo não moralista, mas realista, as novas dificuldades que os laços apreendem... do ar que respiram;
b) O gosto de mostrar surpreendentes correspondências entre as formas elementares da vida e os destinos da vocação e da fé: o primado da realidade sobre a ideia é afirmado também com essas escolhas linguísticas, que indicam um método de compreensão e uma relação viva com o real;
c) Um uso "irônico" da linguagem: se nos dispormos de modo "abstrato" diante da família, o melhor que conseguiremos dizer sobre ela é "valor inegociável". Dizendo isso, porém, fixamo-la em uma ideia. Mas essa definição se assemelha muito àquele defeito que o próprio Francisco formulou assim: "Um cristianismo que 'se faz' pouco na realidade e 'se explica' infinitamente na formação está perigosamente desproporcional. Eu diria que está em um verdadeiro círculo vicioso". Mas, para contestar esse estilo "abstrato", o caminho escolhido por Francisco não é o "teórico", mas o "irônico". Ele não usa o "negócio" como "negação da família", mas o introduz como "analogatum" para compreendê-la!
Essa passagem magistral muda tudo, embora não resolva tudo, obviamente. No entanto, muda a abordagem, prepara o encontro, induz uma escuta interessada, respeita a liberdade e anuncia a beleza da comunhão. Assume a experiência do sujeito como passagem obrigatória para acessar a tradição eclesial e para torná-la viva.
Talvez, no fundo dessas escolhas linguísticas, o magistério americano de Francisco sobre a família consiste nisto: anunciar a beleza da comunhão não com o estilo da autoridade, mas com o da liberdade. Para mostrar que, em última análise, é da autoridade da comunhão de que precisa toda liberdade para ser ela mesma!
Como nota de rodapé, é útil lembrar que o magistério de Francisco é "americano" não apenas por ter sido expressado na América, mas porque é fruto da experiência de um americano. Filho de imigrantes, como quase todos os americanos.
Blog Come Se Non, 28-09-2015.
*Andrea Grillo: teólogo italiano, professor do Pontifício Ateneu S. Anselmo, de Roma, do Instituto Teológico Marchigiano, de Ancona, e do Instituto de Liturgia Pastoral da Abadia de Santa Giustina, de Pádua.

O DISCURSO ANTICAPITALISTA DO PAPA

ARTIGOS29 DE SETEMBRO DE 2015
Nos últimos dois anos, Francisco, primeiro papa não europeu em treze séculos, descentralizou o olhar da Igreja no mundo. Defensor de uma ecologia “integral” socialmente responsável, desafia as consciências
Por Jean-Michel Dumay, do Le Monde Diplomatique


Diante de uma multidão reunida na Praça do Cristo Redentor, em Santa Cruz, a capital econômica da Bolívia, um homem vestido de branco repreende “a economia que mata”, o “capital transformado em ídolo”, “a ambição sem limites do dinheiro que comanda”. No dia 9 de julho, o chefe da Igreja Católica não se dirigia apenas à América Latina, que o viu nascer, mas ao mundo todo, que ele procura mobilizar para colocar um fim na “ditadura sutil” que exala o mau cheiro do “esterco do diabo”.1


Foto: L´Osservatore Romano
“Precisamos de uma mudança”, proclama o papa Francisco três dias antes de incitar os jovens paraguaios a “desafiar a ordem”. Em 2013 no Brasil, pediu às pessoas que atuassem como “revolucionárias” e se posicionassem “contra a corrente”. Em suas viagens, o bispo de Roma profere um discurso cada vez mais virulento sobre o estado do mundo, sua degradação ambiental e social, e usa expressões fortes contra o neoliberalismo, o tecnocentrismo e um sistema econômico de efeitos nefastos: uniformização de culturas e “globalização da indiferença”.

Em junho, nessa mesma linha, Francisco dirigiu à comunidade internacional um “convite urgente para um novo diálogo, o diálogo pelo qual construiremos o futuro do planeta”. Nessa encíclica sobre a ecologia, chamada Laudato si’ (“Louvado seja”), chama cada um, fiel ou não, para uma revolução de comportamentos e denuncia um “sistema de relações comerciais e de propriedade estruturalmente perverso”.

O pontífice assegura que outro mundo é possível, não no Juízo Final, mas aqui embaixo e agora. O papa celebridade, na linha midiática de João Paulo II (1978-2005), fragmenta e divide: por um lado é canonizado por figuras da ecologia e altermundialistas (Naomi Klein, Nicolas Hulot, Edgar Morin) por “sacralizar o desafio ecológico” em um “deserto do pensamento”;2 por outro, demonizado pelos ultraliberais e pelos céticos em relação à questão climática, capazes de descrevê-lo como “a pessoa mais perigosa do mundo” – como o caricaturou um polemista do canal ultraconservador norte-americano Fox News.

As direitas cristãs se inquietam ao ver um papa de discurso esquerdista e reticente sobre o aborto. E os editorialistas da esquerda laica se perguntam sobre a profundidade revolucionária desse homem do Sul, primeiro papa não europeu desde o sírio Gregório III (731-741), que se escandaliza diante do tráfico de imigrantes, pede apoio aos gregos e rejeita o plano de austeridade, nomeia um genocídio (dos armênios) de “genocídio”, assina um quase acordo com o Estado palestino, apoia sua testa em oração no Muro das Lamentações contra a separação que os israelenses impõem aos palestinos e se aproxima de Vladimir Putin sobre a questão síria quando a tendência, entre os ocidentais, é sancionar a Rússia pelo conflito ucraniano.

“Ele colocou a Igreja novamente no cenário internacional”, analisa Pierre de Charentenay, especialista em Relações Internacionais na revista jesuíta romana Civiltà Cattolica. “E mudou a aparência da instituição. Ele é o campeão do altermundialismo e questiona o conjunto do sistema.”

Precisamente, o que diz o primeiro papa jesuíta e sul-americano é o seguinte: a humanidade carrega a responsabilidade pela degradação planetária e deixa o sistema capitalista neoliberal destruir o planeta, “nossa casa comum”, semeando desigualdade. A humanidade precisa romper com uma economia – como diz o economista, e também jesuíta, Gaël Giraud – “que desde Adam Smith e David Ricardo exclui a questão ética, impondo a ficção da mão invisível” que deveria regular o mercado. Essa mão precisa, atualmente, de uma “autoridade mundial”, de normas restritivas e, sobretudo, da inteligência dos povos a serviço de quem é urgente redirecionar a economia. Porque a solução, política, está em suas mãos, e não nas mãos das elites, acometidas pela “miopia das lógicas de poder”.

Para o papa, a crise ambiental é, antes, moral, fruto de uma economia desligada do ser humano, na qual as dívidas se acumulam: entre ricos e pobres, Norte e Sul, jovens e velhos. E na qual “tudo está conectado”: pobreza-exclusão e cultura do desperdício, ditadura do curto prazo e alienação consumista, aquecimento global e congelamento de corações. Dessa forma, “uma abordagem ecológica verdadeira sempre se transformará em abordagem social”. Convocada a se repensar, a humanidade precisa buscar uma “nova ética nas relações internacionais” e uma “solidariedade universal” – é o que pedirá Francisco na Assembleia Geral da ONU no dia 25 de setembro, no lançamento dos Objetivos do Milênio para o Desenvolvimento.

Sem dúvida, nada disso é novo. “Francisco se insere como uma bonita continuidade na linha do Concílio do Vaticano II [aquele ocorrido entre 1962 e 1965, cujo objetivo era abrir a Igreja ao mundo moderno]”, constata Michel Roy, secretário-geral da rede humanitária Caritas Internacional. Assim, o pontífice revisita a doutrina social da Igreja elaborada na era industrial e alinha suas convicções às de Paulo VI (1963-1978), primeiro papa das grandes viagens intercontinentais. Depois da reforma de João XXIII (1958-1963), foi ele quem fisicamente saiu primeiro do papado da Itália, internacionalizou o colégio dos cardeais, multiplicou as nunciaturas (embaixadas da Santa Sé) e as relações bilaterais com os Estados.3 Também foi Paulo VI quem levou a Igreja para além de suas competências restritas de guardiã das liberdades religiosas e tornou-a “solidária com as angústias e penas de toda a humanidade”.4 Para ele, desenvolvimento era o novo nome da paz; uma paz entendida não como um estado, mas como o processo dinâmico de uma sociedade mais humana pelo compartilhamento da riqueza.

Contudo, se por um lado existe essa continuidade – para alguns, inclusive, ela representa o ápice da aposta católica empreendida nos anos 1960 –, por outro é difícil ignorar que o pontífice argentino vai além de seus predecessores. Apesar de o polonês João Paulo II e o alemão Bento XVI não economizarem no discurso antiliberal, eles ficaram marcados pelo rigor doutrinal. O último foi acometido também por alguns “contratempos” que a administração do Vaticano teve certa dificuldade em contornar, como o caso VatiLeaks: a difusão de documentos confidenciais que acusavam a Santa Sé de corrupção e favorecimento ilícito, notadamente em contratos assinados com empresas italianas.

Há duas opiniões sobre as razões da renovação atual: uma delas defende que se trata do contexto, e a outra, de que se devem a características inerentes ao homem. “No plano ético-político, Francisco preenche um vazio em nível internacional”, constata François Mabille, professor de Ciência Política na Federação Universitária e Politécnica de Lille e especialista em diplomacia pontifical. Ele é o papa pós-crise financeira de 2008, como João Paulo II foi o do fim do comunismo. “Ao realizar um aggiornamento da doutrina social, Francisco introduz o pensamento sistêmico na Igreja, segundo o qual todos os fatores sociais estão relacionados. Além disso, ocupa com sucesso o lugar da reivindicação de protesto”, analisa Mabille. E acrescenta: “Ele tem senso de urgência. O tempo da Igreja já não era o tempo do mundo. Tudo ia muito rápido para Bento XVI. Francisco sentiu a necessidade de a Igreja estar no passo da emancipação, e não mais da reação”.

Antes de ganhar o mundo, contudo, Francisco estremeceu a própria casa. Adepto de uma sobriedade que compartilha com Francisco de Assis, de quem emprestou o nome, instaurou um papado preocupado com o exemplo. Renunciou a atributos de vestimentas e hábitos honoríficos e foi viver em um quarto e sala de 70 m², em vez dos luxuosos apartamentos pontificais. O papa deseja atingir o campo simbólico e, para isso, não se restringe à palavra: empreende gestos concretos – o que tem seu peso em uma sociedade pautada pela imagem.

Dessa forma, como um bom samaritano, aparece sempre direto, espontâneo, cara a cara. Designado por seus pares para reformar em profundidade a Cúria, ou seja, o aparelho estatal da Santa Sé, Francisco fez uma lista de quinze males que acometem a instituição, marcada por um clientelismo à moda italiana. Entre os itens, o “Alzheimer espiritual” e, em primeiro lugar, o hábito de “acreditar-se indispensável”.5

Teologia da Libertação Não Marxista

Para governar, o papa se cercou de uma guarda próxima com oito cardeais. Criou comissões para reformar as finanças e a comunicação, multiplicou as instalações de especialistas laicos para aconselhar sua administração, criou um tribunal no Vaticano para julgar bispos que acobertaram padres pedófilos, nomeou um primeiro escalão com quinze novos cardeais, que serão os futuros eleitores de seu sucessor. O próximo papa será escolhido com o anterior ainda em vida, como quis Bento XVI para ele mesmo. Francisco repetiu essa premissa antes de partir em visita a Evo Morales na Bolívia e a Rafael Correa no Equador: ele é contra “líderes vitalícios”.

Seus novos conselheiros foram escolhidos entre aqueles que vivem questões sociais na pele, como em Agrigento, diocese de Lampedusa, a ilha de imigrações clandestinas. Francisco tem procurado seus prelados na Ásia, na Oceania, na África e na América Latina, estabelecendo regras sem escrevê-las: chega de arquidioceses que empurram mecanicamente seus titulares para a alta hierarquia romana, aumentando o peso da Europa no conclave e, em seu seio, o da Itália.6

“Esse papa enfrenta tabus e dá pontapés na fórmula estabelecida, sem tomar as devidas precauções”, constata um diplomata francês, analista da ação pontifical. “Ele entendeu que é um chefe de Estado. A função o tomou completamente. Ele é pragmático e muito político”, continua. Tudo isso repercute na Igreja, porque Francisco “é” a Igreja, como ele mesmo lembrou àqueles que se preocupavam se a instituição o seguiria.

“Ele está sendo muito procurado”, declara um conselheiro pontifical. Em dois anos, mais de cem chefes de Estado foram recebidos no Vaticano. Alguns buscavam mediação de conflitos: Estados Unidos e Cuba, aos quais facilitou a reaproximação; Bolívia e Chile, em função da reivindicação boliviana de acesso ao mar (ver artigo nas págs. 22 a 24). Essas abordagens convergem com os desejos do papa, que gostaria de reabrir em Roma um escritório de mediação pontifical, mesmo sem sucesso garantido: em junho de 2014, reuniu, de forma midiática, o primeiro-ministro palestino, Mahmud Abbas, e o presidente israelense, Shimon Peres, nos jardins do Vaticano – o que não impediu os ataques mortíferos de Israel em Gaza um mês depois.

Nascido na Argentina como Jorge Mario Bergoglio, Francisco “é o primeiro papa que compreende verdadeiramente as mudanças Sul-Sul, seja em relação a bens materiais, simbólicos ou religiosos”, observa Sébastien Fath, membro do Grupo Sociedades, Religiões, Laicidades do Centro Nacional de Pesquisa Científica da França (CNRS, na sigla em francês). “Ele sabe que os pregadores africanos estão ligados às Igrejas brasileiras, que os jesuítas indianos partem em missões na África”, completa Fath. “É um latino perfeito... que não fala inglês”, completa Roy, da Caritas. Bergoglio foi garoto nos subúrbios de Buenos Aires e possui sua própria geografia do espaço: menos a do Sul oposto ao Norte que a de um centro antagonista das “periferias”, sejam elas espaciais (países pobres, periferias, favelas) ou existenciais (populações precarizadas, excluídas). Nessa visão, as periferias existem também no Norte, e olhares colonialistas estão espalhados por circuitos globalizados. É isso que Francisco quer que a Igreja trabalhe.

Bergoglio escolheu seu campo de batalha: o da “opção preferencial pelos pobres” e pelos “pequenos”, a quem nomeia claramente em seus discursos, como em Santa Cruz: “catadores de lixo”, “vendedores ambulantes”, “camponeses ameaçados”, “trabalhadores excluídos”, “indígenas oprimidos”, “imigrantes perseguidos”, “pecadores que não resistem às propagandas das grandes corporações”. Francisco é pastor com vínculos missionários fortes, poderia se dizer. Não um diplomata. Isso é um problema? Não, pois para isso existem os diplomatas da Santa Sé, coordenados pelo experiente secretário de estado do Vaticano, Pietro Parolin, antes responsável por missões delicadas na Venezuela, Coreia do Norte, Vietnã e Israel.

O Sínodo sobre a Família

“O papa está convencido de que o futuro repousa sobre aqueles que estão nos territórios, atuando”, reconhece Roy. Ele desconfia de organizações (a começar pela sua!) cujas distorções levam, segundo ele, à esterilidade dos discursos autorreferenciais distantes da realidade. Isso o torna um dirigente de abordagem humana e gerencial em ascendência, constatam os diplomatas, enquanto seus predecessores atuavam de forma vetorial, do topo em direção à base, pela transcendência. “Abençoem-me”, disse Francisco aos fiéis na Praça São Pedro no dia de sua eleição, invertendo os papéis.

Essa proximidade com as populações, que lhe confere traços populistas (na juventude, esteve próximo a um grupo da Juventude Peronista), está fundamentada conceitualmente na teologia do povo, um braço argentino não marxista da teologia da libertação.7 “Uma teologia para o povo, e não pelo povo”, resume Pierre de Charentenay, para marcar a diferença. “O papa opera um tipo de retomada popular e cultural da teologia da libertação.” Trata-se também de uma reabilitação. Oriunda da apropriação latino-americana do Vaticano II nos anos 1970, a teologia da libertação foi desprezada por Bento XVI e João Paulo II por sua abordagem marxista. Em setembro de 2013, Francisco recebeu, em audiência privada em Roma, um de seus ilustres fundadores, o padre peruano Gustavo Gutierrez. Em maio de 2015, beatificou Oscar Romero, o arcebispo de San Salvador assassinado em 1980 por militantes de extrema direita. Seus predecessores nem sequer se deram ao trabalho de abrir uma investigação. De acordo com Leonardo Boff, um dos líderes brasileiros do movimento, a visão de Francisco se inscreve “na grande herança da teologia da libertação”. Seu papado poderia até abrir uma “dinastia de papas do Terceiro Mundo”.8

Bergoglio encarna também o papa administrador: o primeiro a exercer concretamente suas responsabilidades territoriais, extradiocese, em nível regional. De 2005 a 2011, foi presidente da Conferência Episcopal argentina.9 De repente, “as tropas [no Vaticano] estão mais bem organizadas, e sua personalidade e seu envolvimento pessoal dinamizaram a diplomacia da Santa Sé”, constata um observador romano.

Como dirigente, definiu um caminho para sua multinacional. Habilmente, articula o ataque em função de seu alvo. Mundo afora, faz seu projeto ser conhecido como “internacionalismo católico”,10 com objetivos como participar da pacificação das relações entre Estados, promover a democracia, insistir nas estruturas de diálogo internacional, zelar pela justiça entre os povos, estimular o desarmamento, o bem comum internacional – entre outros temas que às vezes conferem à Igreja um ar de ONG. Internamente, aos seus colegas cardeais, o jesuíta enfatizou o essencial: evangelizar. Mas também incentivar que a Igreja saia de si mesma, de seu “narcisismo teológico”, para se dirigir às “periferias”.11

Para evangelizar, porém, Francisco não levanta a cruz como João Paulo II, que, desde seu primeiro sermão, atuou na ofensiva: “Não tenham medo! Abram as portas ao Cristo, abram as fronteiras dos Estados, dos sistemas políticos e econômicos...”.12 O papa argentino tem outro senso político. Não hesita em fazer a Igreja trabalhar junto aos movimentos populares, que estão longe de compartilhar de sua fé. Ele compreendeu que se por um lado a Igreja permanece universal, por outro não é o centro do mundo.

Essas novas inclinações, entretanto, não escondem as dificuldades. Um exemplo é o caso do Oriente Médio. Em 2013, Francisco lançou as atenções da diplomacia do Vaticano sobre a Síria, pedindo paz, enquanto França e Estados Unidos queriam derrubar o regime de Bashar al-Assad. Um ano depois, a Santa Sé precisou recuar e pediu à ONU que “fizesse de tudo” para conter as violências da Organização do Estado Islâmico (OEI), responsável por “uma espécie de genocídio” que obrigava os cristãos ao êxodo.

Da mesma forma, na Ásia, região entendida como uma fonte de desenvolvimento, a diplomacia do Vaticano patina. Se as relações com o Vietnã estão esfriando, na China uma corrente católica controlada pela Associação Patriótica dos Católicos Chineses – cuja estrutura é estatal – continua a escapar do bispado de Roma. Sem dúvida, Francisco se desdobrou para apaziguar o presidente Xi Jinping – notadamente evitando um encontro com o Dalai Lama – e reconheceu um bispado em julho em Anyang (província de Henan), o que não acontecia havia três anos. Mas a realidade está longe dos sonhos missionários: desde o início deste ano, de acordo com os relatórios da agência Igrejas da Ásia, as autoridades chinesas destroem dezenas de cruzes nas igrejas, consideradas muito ostensivas, principalmente na província de Zhejiang. Finalmente, na Índia, a ínfima minoria católica (2,3% da população) é regularmente submetida a atentados.

Para Francisco, contudo, os obstáculos não estão apenas em terras longínquas não cristianizadas. Nos Estados Unidos, onde se apresentará no dia 24 de setembro diante do Congresso, sua popularidade caiu consideravelmente. Em fevereiro, 76% da população tinha opinião favorável em relação ao papa. Em julho, após a publicação da encíclica e do discurso de Santa Cruz, o índice caiu para 59%. A queda foi ainda mais acentuada entre os republicanos (45%).13 O tom é ácido. Francisco é acusado de tropismo latino-americano, de ter pouca consideração com o que capitalismo trouxe aos países mais pobres e de proferir discursos que não propõem soluções.14

À esquerda, suspeita-se de uma ofensiva sedutora para abrir caminhos a pílulas mais amargas – observando, por exemplo, a manutenção da oposição doutrinal à contracepção e a ausência de estímulo ao uso do preservativo como forma de combater a transmissão do vírus HIV. Os conservadores, por sua vez, não aprovam suas atribuições teológicas e morais. “Não sigo a política econômica dos meus bispos, cardeal ou papa”, declarou Jeb Bush, candidato republicano à Casa Branca convertido ao catolicismo há 20 anos.15 O papa não se intimidou: “Não espere deste papa uma receita. A Igreja não tem a pretensão de substituir a política”.

De forma geral, Francisco concentra esforços em questões sociais, pelas quais os órgãos do Vaticano trabalham há dois anos na surdina. Em 2014, abriu uma caixa de Pandora ao pedir aos bispos, reunidos no sínodo, que se dedicassem a uma pesquisa sobre a família. Os trabalhos serão finalizados em outubro deste ano. Em diversas ocasiões, ele mencionou a necessidade de evolução no tema dos divorciados que se casaram novamente e foram privados da comunhão, ou ainda na questão da homossexualidade.

Internamente, Francisco quer romper com o centralismo romano, desenvolver o colegiado, levar às conferências episcopais sua parte de autoridade doutrinal, promover a enculturação da liturgia. Tais ações podem abalar a unidade de sua Igreja. Ora, ele já está com 78 anos. E a Cúria, universo que lhe era desconhecido, opõe grandes resistências. “Ele enfrenta obstáculos. O arado está preso em uma terra difícil”, observa Pierre de Charentenay. Em relação à família, Francisco pede “um milagre”. Quanto ao resto, por enquanto ninguém aposta que esse papa impertinente terá sucesso.

*Jean-Michel Dumay é jornalista.

1 O papa retoma aqui uma expressão de um dos pais da Igreja, Basílio de Cesareia, um ascético precursor do cristianismo social.

2 “Naomi Klein prend fait et cause pour l’encyclique du pape” [Naomi Klein apoia encíclica do papa], 2 jul. 2015. Disponível em: ; “Nicolas Hulot: ‘Le pape François sacralise l’enjeu écologique’” [Nicolas Hulot: “O papa Francisco sacraliza o desafio ecológico”], L’Obs, Paris, 25 jun. 2015; “Edgar Morin: ‘L’encyclique Laudato Si’ est peut-être l’acte 1 d’un appel pour une nouvelle civilisation’” [Edgard Morin: “A encíclica Laudato Si’ talvez seja o ato 1 de um chamado a uma nova civilização], La Croix, Paris, 22 jun. 2015.

3 O número de Estados com os quais a Santa Sé mantém relações passou de 49 em 1963 para 84 em 1978. Atualmente, é de 180. Afeganistão, Arábia Saudita, China, Coreia do Norte e Vietnã estão entre os quinze países com os quais o Vaticano não mantém relações.

4 Philippe Chenaux, Paul VI, Éditions du Cerf, Paris, 2015.

5 “Les quinze maux de la curie selon le pape François” [Os quinze males da Cúria de acordo com o papa Francisco], Le Monde, 23 dez. 2014.

6 Dos 114 cardeais eleitores que escolheram Francisco em março de 2013, 55 eram europeus, e 23, italianos.

7 Juan Carlos Scannone, Le Pape du peuple. Bergoglio raconté par son confrère théologien, jésuite et argentin [O papa do povo. Bergoglio contado por seu confrade teólogo, jesuíta e argentino], entrevistas com Bernadette Sauvaget, Éditions du Cerf, 2015.

8 “Mientras viva Ratzinger, no es bueno que Francisco me reciba en Roma” [Enquanto Ratzinger estiver vivo, não é bom que Francisco me receba em Roma], El País, Madri, 23 jul. 2013.

9 Em meio aos jesuítas, foi – entre 1973 e 1978, sob a ditadura de Jorge Rafael Videla – jovem provincial (patrono) da Companhia de Jesus em seu país. Uma polêmica, mal sustentada, acusa-o de falta de firmeza diante do regime.

10 “L’internationalisme catholique”, Les Grands Dossiers de Diplomatie, n.4, Paris, ago.-set. 2011.

11 Intervenção de Jorge Mario Bergoglio diante das congregações gerais antes do conclave que o elegeu papa, no dia 13 de março de 2013. O texto, que deveria permanecer secreto, foi difundido alguns meses depois com o consentimento do sumo pontífice, pelo cardeal Jaime Ortega, arcebispo de Havana.

12 Ler Peter Hebblethwaite, “Le rêve polonais d’une chrétienté restaurée” [O sonho polonês de uma cristandade restaurada], Le Monde diplomatique, maio 1998.

13 Pesquisa Gallup, 22 jul. 2015.

14 “In fiery speeches, Pope renews critiques on excesses of global capitalism” [Em discursos ferozes, papa renova críticas aos excessos do capitalismo global], International New York Times, Paris, 13 jul. 2015.

15 “Jeb Bush joins Republican backlash against Pope on climate change” [Jeb Bush se junta à reação republicana contra o papa na questão da mudança climática], The Guardian, Londres, 17 jun. 2015.

Mudança de estratégia no mercado

O cristianismo está sob forte concorrência: em 2050, de acordo com projeções demográficas, os cristãos, estabilizados em 31% da população mundial, serão praticamente alcançados pelos muçulmanos (quase 30%), cujo número de fiéis terá crescido, em quarenta anos, duas vezes mais rápido, em particular na Ásia.1 Os católicos, estimados hoje em 1,2 bilhão de fiéis, também perderão espaço para os evangélicos e pentecostais, atualmente na proporção de um para quatro, e para os protestantes, estimados hoje em dois para cada três cristãos.2

Para reunir a família cristã, o papa Francisco demonstra certo zelo ecumênico. De início, apresentou-se oportunamente aos ortodoxos como simples “bispo de Roma” e convidou dezenas de pastores evangélicos e pentecostais para conhecer o Vaticano. Em sua paróquia, inverteu os objetivos de seus antecessores: valoriza os pontos fortes da Igreja, ou seja, os lugares onde ela está mais viva e representada, onde detém as “maiores fatias do mercado” – América Latina, Filipinas, África. E já não concentra tantos esforços em reanimar as terras que caíram na “noite obscura” do secularismo. Francisco leva a Igreja aos lugares onde ela tem as portas abertas.

Na Ásia, foi às Filipinas (81% católica), mas também à Coreia do Sul, onde os cristãos se instalaram sob a pressão das Igrejas evangélicas (18% de protestantes, 11% de católicos). Em novembro, visitará a África pela primeira vez (Uganda, Quênia), onde a competição no mercado religioso é alta.

“Lá, as Igrejas evangélicas, que recrutam a mesma clientela, estão em vantagem sobre os católicos”, observa Sébastien Fath, especialista em protestantismo evangélico no Centro Nacional de Pesquisa Científica da França (CNRS, na sigla em francês). “Elas não estão imersas no mundo colonial, sua liturgia é africana e oferecem aos fiéis a promoção da laicidade e das mulheres, uma relação mais flexível com a sexualidade e redes reais de solidariedade local.” Para enfrentar essa concorrência, Francisco aposta na humildade: “O papa não os observa de forma superior; ao contrário, aproxima-se com muito respeito. Ele é visto como um papa que quer trazer soluções para a vida cotidiana. Ora, os africanos querem justamente que a fé cristã ajude aqui e agora, e não um evangelho desconectado de questões econômicas e sociais”, analisa Fath.

Francisco, que aborda o catolicismo pelo sofrimento social, está construindo alianças junto a essas populações. Está fora de questão se manter distante dessas Igrejas vivas. “Ao internalizar práticas evangélicas, e legitimá-las, sua estratégia visa recuperar, a longo prazo, os decepcionados que desejam escapar dos desvios sectários e megalomaníacos de certos pastores”, interpreta Fath. Para ele, Francisco parece inclinado a valorizar mais o catolicismo de conversão e de apropriação pessoal que aquele dos “herdeiros” católicos. (J.-M.D.)

1 A proporção de ateus de hoje até a metade do século recuará de 16% para 13%. “The future of world religions: population growth projections, 2010-2050” [O futuro das religiões globais: projeções de crescimento populacional, 2010-2050], Pew Research Center, Washington, 2 abr. 2015.

2 Estatísticas CNRS, jan. 2014.

Fonte: www.patrialatina.com.br

Polícia italiana fecha acampamento de migrantes na fronteira com a França

Ocupantes foram acusados de roubar água e energia elétrica.
Quase 50 refugiados e ativistas se abrigaram em área na costa.

Da France Presse

Um acampamento de migrantes na fronteira entre a França e a Itália foi desmantelado nesta quarta-feira (30) pela polícia italiana, mas os ocupantes – quase 50 refugiados e ativistas – se refugiaram em uma área da costa.
O fim do acampamento foi decidido pela justiça de Imperia (Itália), que acusou os ocupantes de roubo de água e energia elétrica, segundo um porta-voz da polícia.
Trinta migrantes e 20 ativistas italianos, alertados sobre a decisão, abandonaram o local e buscaram refúgio em uma área de rochas da costa.
Os migrantes e os ativistas exibiram uma faixa com uma frase em inglês que significa "queremos a liberdade de atravessar a fronteira".
O acampamento, que estava a 100 metros da fronteira francesa e perto da cidade de Menton, reunia, dependendo do dia, até 250 pessoas, segundo Giuseppe Maggese, vice-comandante da polícia de Imperia.

O último balanço do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur) aponta que mais de meio milhão de migrantes e refugiados chegaram à Europa depois de atravessar o Mediterrâneo desde o início do ano.
Migrantes e ativistas exibiram uma faixa com a frase em inglês 'Queremos a liberdade de atravessar a fronteira' depois de acompamento ser desmantelado na fronteira da Itália com a França (Foto: Eric Gaillard/ Reuters)Migrantes e ativistas exibiram uma faixa com a frase em inglês 'Queremos a liberdade de atravessar a fronteira' depois de acompamento ser desmantelado na fronteira da Itália com a França (Foto: Eric Gaillard/ Reuters)
Do total, quase 383 mil desembarcaram na Grécia e 129 mil na Itália. Ao mesmo tempo, 2.980 migrantes morreram ou desapareceram durante a travessia, segundo o Acnur.
Apesar dos esforços da operação europeia de busca e resgate Frontex, que salvou dezenas de milhares de vidas este ano, o Mediterrâneo continua sendo a via mais letal para os refugiados e os migrantes, segundo a ONU.
Na semana passada, os países europeus aprovaram a distribuição de 120.000 migrantes entre os Estados membros da UE e uma ajuda financeira aos países vizinhos da Síria, que recebem milhões de refugiados.
Mas a ONU fez um apelo aos dirigentes europeus para que façam mais para enfrentar o maior fenômeno migratório na Europa desde 1945.
 Migrantes e ativistas tentam resistir à ação da polícia italiana na de fronteira entre Ventimiglia, na Itália, e Menton, na França, próximo do Mediterrâneo (Foto: Eric Gaillard/ Reuters)Migrantes e ativistas tentam resistir à ação da polícia italiana na fronteira entre Ventimiglia, na Itália, e Menton, na França, próximo ao Mediterrâneo (Foto: Eric Gaillard/ Reuters
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'Senhor do Pi': aluno de 15 anos leva 'medalha mais difícil' do app G1 Enem

Aluno do 1º ano do ensino médio, Hauck é destaque em matemática.
Ele fará mecatrônica em 2016; neste ano, Enem será experiência.

Do G1, em São Paulo

Rômulo fará um curso de mecatrônica em 2016.  (Foto: Arquivo pessoal)Rômulo fará um curso de mecatrônica em 2016. (Foto: Arquivo pessoal)
Acertar 20 questões seguidas de matemática, sem errar nenhuma, é um feito raro entre os mais de 200 mil jogadores do aplicativo G1 Enem. Somente 11 deles foram capazes de alcançar esse desempenho. Neste grupo, o que tem a maior pontuação é Rômulo Hauck, de 15 anos.
O estudante mora em Juiz de ForaMinas Gerais, e fará o Enem pela primeira vez como teste.
“Ainda estou no primeiro ano do ensino médio, mas já quero ter experiência de como é prestar o exame”, diz Rômulo.
Ele estuda em uma escola do Sesi/Senai, que integra o ensino básico ao técnico. Pela manhã tem aulas de controle de qualidade industrial e, à tarde, são ensinados os conteúdos regulares. No ano que vem, Rômulo fará o curso de mecatrônica.
Senhor do Pi e medalhas do G1 Enem. (Foto: Arte/G1)
“Minha família tem engenheiros, acho que daí veio o meu interesse por exatas”, explica.

Quando seu professor de filosofia e sociologia, Ivan Bilheiros, recomendou o aplicativo G1 Enem em sala de aula, o jovem começou a desafiar os colegas no jogo de perguntas e respostas – principalmente em matemática e ciências da natureza.

Ele também assiste aos vídeos do app para saber dicas do que costuma cair do Enem. E, dessa forma, já se preparar para a prova do MEC.
Seu objetivo é conquistar uma vaga em engenharia elétrica, na Universidade Federal de Juiz de Fora. “Vou bem na escola e sempre me esforço para alcançar o meu melhor”, diz.

Baixe o G1 Enem, jogo com perguntas, desafio e dicas em víde
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Contrato dos Beatles é vendido

Documento foi vendido por 365 mil libras (553 mil dólares) em um leilão em Londres.
"Money can‘t buy me love" ("Dinheiro não pode me comprar amor"), certa vez cantaram os Beatles, mas um contrato que ajudou a lançar a banda mais famosa de todos os tempos foi vendido em um leilão da Sotheby's nesta terça-feira por 365 mil libras (553.121 dólares).
O contrato firmado por John Lennon, Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr em 1 de outubro de 1962, confirmou Brian Epstein, por vezes chamado de o quinto Beatles, como seu empresário, e também estabeleceu Ringo como baterista da banda.
Foi o segundo contrato assinado pelos Beatles com Epstein, um ex-dono de loja de discos que se apaixonou pelo grupo após ouvi-los várias vezes seguidas no Cavern Club, em Liverpool.
O contrato substituiu o que o grupo havia assinado em janeiro daquele mesmo ano, que incluía Pete Best como baterista. Ele foi substituído por Richard Starkey, mais conhecido como Ringo.
O documento foi assinado dias antes do lançamento do primeiro single de sucesso da banda, "Love Me Do".
"Sem este contrato, e a relação que representa, parece ser inconcebível que os Beatles pudessem ter conquistado tudo que conseguiram", disse Gabriel Heaton, especialista em livros e manuscritos da Sotheby's, por meio de uma comunicado.
Reuters