sexta-feira, 31 de março de 2017

Ditadura nunca mais: o cristianismo e a defesa da liberdade

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A liberdade, e tudo o que ela significa, que tanto desejamos, só será realmente possível, quando todos puderem viver com dignidade e justiça.
Em 1º de abril de 1964 começou uma das noites mais escuras da história de nosso país.
Em 1º de abril de 1964 começou uma das noites mais escuras da 
história de nosso país. (Tânia Rêgo/ Agência Brasil)

Por Felipe Magalhães Francisco*

Há exatos cinquenta e três anos, do dia 31 de março para 1º de abril de 1964, começou uma das noites mais escuras da história de nosso país. As mesmas forças que capitanearam a queda do Brasil para um regime militar, extremamente violento e abusivo, hoje continuam a dar as cartas do jogo, fazendo com que nossa frágil democracia, hoje novamente golpeada, deteriore-se ainda mais. Os empobrecidos e empobrecidas de nosso país continuam a sentir na carne o peso da injustiça social, pela ganância de alguns que não temem mais esconder seus rostos e que não têm o mínimo de pudor.

Olhar para nossa história é caminho importante para que não repitamos os mesmos erros. Infelizmente, uma má formação cidadã, e o rechaço da participação política, entre outros fatores, trouxeram-nos ao que hoje estamos vivendo: assistimos, boquiabertos, ao assalto do poder e a vilipendiação dos direitos dos cidadãos e cidadãs, sobretudos dos mais pobres. Urge que recuperemos a história de luta daqueles que nos precederam na defesa da democracia, e nos inspiremos a construir um país que seja, de fato, para todos e todas, e não apenas de alguns privilegiados e ilegítimos. É preciso que unamos nossa voz, num coro forte, reafirmando, sem cessar, que ditadura nunca mais! Mesmo que essas ditaduras estejam revestidas de aparente normalidade.

Fazendo memória, nesse 31 de março, do golpe militar, queremos, com nossa matéria especial, abordar o papel do cristianismo na luta e defesa da democracia. Que os artigos aqui propostos nos inspirem a assumirmos uma postura profética e de transformação, frente a tudo o que tem acontecido com nosso país, que significam injustiça e indignidade para a maior parte de nossa população, à mercê de forças antidemocráticas e declaradamente corruptas. A liberdade, e tudo o que ela significa, que tanto desejamos, só será realmente possível, quando todos e todas a puderem viver com dignidade e justiça.

A liberdade é essencial para a compreensão do cristianismo, pois remete à inspiração mesma de Jesus, quando nos apresenta um novo modo de viver. É o que propõe como reflexão o artigo O Cristianismo e defesa da liberdade, do filósofo Damião Fernandes dos Santos. Partindo da inspiração paulina, na Carta aos Gálatas, o autor nos ajuda a perceber que a liberdade, fundamental para o cristianismo, significa o rompimento com todas as formas de escravidão, que nos alienam da dignidade para à qual fomos criados.

É por ser profundamente evangélica, que a busca pela liberdade inspirou uma teologia que nasceu em nosso continente latino-americano. No contexto da denúncia das injustiças, em nome da fé e do Evangelho, a Teologia da Libertação foi muito importante no processo de pensar o país, com suas agruras, bem como no reavivar da esperança e na busca pela transformação da realidade. É o que nos ajuda a compreender o artigo A Teologia da Libertação e a Ditadura Civil-militar no Brasil, do teólogo jesuíta Pe. Francisco das Chagas de Albuquerque.

Um testemunho inspirador de luta pela democracia e pelos direitos humanos, tão vilipendiados em nosso Brasil atual, é o do Cardeal Dom Paulo Evaristo Arns (1921-2016), que pastoreou a Arquidiocese de São Paulo por vinte e oito anos. Fazendo memória de seu legado, o artigo Dom Paulo Arns: O Cardeal dos Direitos Humanos, proposto pelo teólogo Pe. Manoel Godoy, inspira-nos ao comprometimento com as causas dos mais pobres, para que a vida renda seus bons frutos, de justiça, dignidade e de paz.

Boa leitura!

*Felipe Magalhães Francisco é doutorando em Ciências da Religião, pela PUC-MG, e mestre e bacharel em Teologia, pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia. Coordena a Comissão Arquidiocesana de Publicações, da Arquidiocese de Belo Horizonte. Articula a Editoria de Religião deste portal. É autor do livro de poemas Imprevisto (Penalux, 2015).

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