domingo, 17 de dezembro de 2017

Abrir-nos a Deus

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Reflexão sobre o Evangelho do Terceiro Domingo do Advento (Jo 1, 6-8.19-28), ciclo B do Ano Litúrgico.
As dúvidas não são um obstáculo.
As dúvidas não são um obstáculo. (Reprodução/ Pixabay)
Por José Antonio Pagola*

A fé converteu-se para muitos numa experiência problemática. Não sabem exatamente o que lhes aconteceu nestes anos, mas uma coisa é clara: já não voltarão a acreditar no que acreditavam em criança. De tudo aquilo só ficam algumas crenças de perfil bastante confuso. Cada um foi construindo o seu próprio mundo interior, sem poder evitar muitas vezes graves incertezas e interrogações.

A maioria destas pessoas faz o seu «percurso religioso» de forma solitária e quase secreta. Com quem irão falar destas coisas? Não há guias nem pontos de referência. Cada um atua como pode nestas questões que afetam o mais profundo do ser humano. Muitos não sabem se o que lhes acontece é normal ou inquietante.

Os estudos do professor de Atlanta James Fowler sobre o desenvolvimento da fé podem ajudar não poucos a entender melhor o seu próprio percurso. Ao mesmo tempo lançam luz sobre as etapas que a pessoa há de seguir para estruturar o seu «universo de sentido».

Nos primeiros estágios da vida, a criança vai assumindo sem refletir as crenças e valores que se lhe propõem. A sua fé não é, todavia, uma decisão pessoal. A criança vai estabelecendo o que é verdadeiro ou falso, bom ou mau, a partir do que lhe ensinam desde fora.

Mais adiante, o indivíduo aceita as crenças, práticas e doutrinas de forma mais refletida, mas sempre tal como estão definidas pelo grupo, a tradição ou as autoridades religiosas. Não se lhe ocorre duvidar seriamente de nada. Tudo é digno de fé, tudo é seguro.

A crise chega mais tarde. O indivíduo toma consciência de que a fé há de ser livre e pessoal. Já não se sente obrigado a acreditar de modo tão incondicional no que ensina a Igreja. Pouco a pouco começa a relativizar certas coisas e a selecionar outras. O seu mundo religioso modifica-se e até se quebra. Nem tudo responde a um desejo de autenticidade maior. Em nós também estão a frivolidade e as incoerências.

Tudo pode ficar aí. Mas o indivíduo pode também continuar a aprofundar o seu universo interior. Se se abre sinceramente a Deus e, o procura no mais profundo do seu ser, pode brotar uma fé nova. O amor de Deus, acreditado e acolhido com humildade, dá um sentido mais profundo a tudo. A pessoa conhece uma coerência interior mais harmoniosa. As dúvidas não são um obstáculo. O indivíduo intui agora o valor último que contém práticas e símbolos antes criticados. Desperta de novo a comunicação com Deus. A pessoa vive em comunicação com todo o bom que há no mundo e sente-se chamada a amar e a proteger a vida.

O decisivo é sempre fazer em nós um lugar real à experiência de Deus. Daí a importância de escutar a chamada do profeta: «Preparai o caminho do Senhor». Este caminho, temos de abri-lo no íntimo do nosso coração.

*José Antonio Pagola é padre e teólogo espanhol

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