domingo, 30 de novembro de 2014

'Ele amava o Brasil', diz fã de Bolaños que produziu shows de 'Chaves'

30/11/2014 07h05

Maurício Trilha, de 23 anos, passou dia na casa do artista em Cancún.

Jovem trouxe integrantes do elenco do seriado para espetáculos no país.

Do G1 RS
Maurício Trilha Roberto Bolaños Chaves (Foto: Maurício Trilha/Arquivo Pessoal)Maurício Trilha ao lado de Florinda Meza e Roberto Bolaños no México (Foto: Maurício Trilha/Arquivo Pessoal)
“Perdi o meu maior ídolo”. Assim Maurício Trilha, de 23 anos, resume como se sentiu ao saber da morte de Roberto Gómez Bolaños, criador e intérprete dos personagens “Chaves” e “Chapolin”. Fã do seriado desde que se conhece “por gente”, o gaúcho de Porto Alegre produziu diversos shows com integrantes do elenco no Brasil e chegou a conhecer Bolaños pessoalmente.
Maurício conta que nunca vai esquecer o encontro que teve com o humorista no início de 2013 na casa dele no balneário de Cancún, no México. Foi lá que Bolaños se refugiou para amenizar os efeitos de uma doença respiratória e onde morreu na sexta-feira (28), aos 85 anos. O velório será neste domingo (30) no estádio Azteca, na Cidade do México.
“Foi uma experiência inacreditável. Só quem já se aproximou de um ídolo entende como eu me senti”, diz Maurício. “Ele amava o Brasil. Ele disse que um dos maiores arrependimentos da vida dele foi não ter vindo ao Brasil enquanto podia. Ele adorava o futebol brasileiro, citou uns 30 jogadores brasileiros. E o Pelé era o grande ídolo dele”, acrescenta.
Assim como muitos brasileiros, o produtor de eventos virou fã de Chaves e sua turma ainda na infância. “Tenho uma fita VHS com a festa de aniversário dos meus cinco anos de idade. Minha dinda me dá um boneco do Chapolin de presente e eu saio pulando superfeliz, imitando o personagem. As lembranças mais remotas que tenho da vida são sobre eu chegando da escola e ligando a TV para assistir ao Chaves”, recorda.
Com o passar dos anos, Maurício começou a participar de fóruns de discussão na internet sobre o seriado. Trocava informações com outros fãs, traduzia notícias e escrevia textos sobre o elenco e seus personagens. Não demorou muito para virar um dos diretores do maior fã-clube sobre “Chaves” e “Chapolin” da América Latina, com mais de 220 mil cadastrados, segundo ele.  
O produtor então passou a organizar eventos para reunir outros fãs da série, a maioria em São Paulo ou Rio de Janeiro. Foi através desses encontros que teve contato com os dubladores brasileiros e depois com os próprios atores mexicanos. O primeiro a conhecer foi Edgar Vivar, que interpretava Seu Barriga. “Conheci todos os atores vivos e os mortos também”, brinca ele, se referindo às visitas aos túmulos de Ramón Valdés (Seu Madruga) e Angelines Fernández (Bruxa do 71), no México.
Maurício Trilha Roberto Bolaños Chaves (Foto: Maurício Trilha/Arquivo Pessoal)Maurício e amigo cantam 'Boa Noite Vizinhança' para o ator (Foto: Maurício Trilha/Arquivo Pessoal)
Em 2012, Maurício foi o responsável por trazer a Porto Alegre Edgar Vivar para uma apresentação no bar Opinião. Um ano depois, repetiu a dose com o show de Carlos Villagrán, o Kiko, para quem chegou a roteirizar um espetáculo. O sucesso foi tanto que ele começou a acreditar na possibilidade de reunir todo o elenco vivo para um show no Brasil. “O nosso sonho sempre foi esse. A gente tentou armar esse evento, falamos com a Televisa e tudo, mas os médicos já tinham proibido o Bolaños de viajar”, conta.
Sem alternativas, o jovem decidiu fazer o caminho inverso e ir até o encontro do ídolo. Em janeiro do ano passado, ele e outro fã embarcaram para o México para gravar uma entrevista com Bolaños e a mulher dele, Florinda Meza, que interpretava a Dona Florinda na série. A gravação seria exibida em um evento para outros fãs. Eles não só conseguiram as entrevistas, como foram convidados para passar um dia na casa dos atores.
Maurício Trilha Roberto Bolaños Chaves (Foto: Maurício Trilha/Arquivo Pessoal)Maurício com Carlos Villagrán e o dublador Nelson
Machado (Foto: Maurício Trilha/Arquivo Pessoal)
“Quando fomos a gravar a entrevista, ele nos recebeu de camisa social. Depois, no sábado, quando fomos lá, ele nos recebeu de bermuda, chinelo de dedos e com uma camiseta do nosso fã-clube. Almoçamos juntos, conversamos, ele nos mostrou o livro que estava escrevendo, fotos dos netos. Meu amigo sentou no piano e eu cantei com ele ‘Boa Noite Vizinhança’. Foi emocionante”, recorda Maurício.
O jovem gaúcho conta que Bolaños já estava com a saúde bastante debilitada naquele momento. Se deslocava com a ajuda de andador ou cadeira de rodas, mas ainda não usava respirador artificial. Mesmo assim, estava entusiasmado com a presença de fãs brasileiros. Segundo o produtor, o próprio humorista reconhecia que era mais famoso no Brasil do que em sua terra natal.
Na sexta-feira (27), Maurício ficou sabendo da notícia da morte do ídolo ao receber a ligação de uma rádio de Porto Alegre, que queria um depoimento seu. Depois disso, seu telefone não parou mais de tocar. Muitos eram amigos oferecendo condolências, como se ele tivesse perdido um familiar.
Maurício diz que os fãs acompanhavam o estado de saúde de Bolaños à distância e já esperavam pela morte do ídolo. Em vez de lamentar, muitos preferiram lembrar os muitos risos proporcionados por ele. “Morre um dos maiores escritores da história. Morre um gênio. Morre um ídolo. Morre o cara que fez minha infância feliz. Morre o cara que, involuntariamente, transformou minha vida”, escreveu o fã em sua página em uma rede social.

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