quinta-feira, 30 de abril de 2015

Bispos devem escutar e conduzir fiéis

Facções progressistas e conservadoras da Igreja querem e têm o direito de ser escutadas.
É preciso admitir que a população católica da França é um pouco mais numerosa do que a população católica da Inglaterra e de Gales. Mas isso não pode explicar inteiramente por que uma consulta entre os leigos franceses sobre o interesse da Igreja com os problemas do matrimônio e da sexualidade tenha obtido 10 mil respostas, enquanto a consulta sobre os mesmos argumentos, organizada pelos bispos da Inglaterra e de Gales tenha alcançado até agora unicamente 500 questionários compilados on line e pouquíssimas respostas escritas. E isto também não explica por que aqueles bispos tenham ido em frente no redigir sua resposta oficial comum sem tomar em conta sequer o insignificante número de respostas que obtiveram.
Não causa estranheza que as facções desiludidas, tanto as progressistas como as conservadoras, tenham lançado suas iniciativas. Querem ser escutados e têm o direito de ser escutados. Parece que certo número de fatores tenha contribuído para este fiasco. Uma consulta semelhante, no ano passado, antes do Sínodo extraordinário sobre a Família, no outono, havia suscitado muitíssimo interesse. Não obstante o fato de que o questionário vaticano não estivesse expresso muito bem, os indivíduos e os grupos paroquiais o completaram aos milhares. Mas os bispos seguiram a letra da lei e não publicaram os resultados antes do Sínodo. Não teriam podido publicá-los logo após?
Um fator ulterior foi neste ano a soporífera melifluidade da literatura que foi feita circular na Inglaterra e em Gales. Ela convidava os católicos, antes do segundo dos dois sínodos que o papa Francisco havia convocado, a “refletir sobre uma série de pias observações, colocadas como perguntas, que pareciam apontamentos para uma aula de recuperação de uma escola elementar muito atrasada”. Um questionário um pouco mais apreciável foi enviado aos sacerdotes, mas também a resposta àquele questionário pareceu desmotivada.
Tudo isso faz pensar que algo tenha andado decididamente mal. Um motivo parcial deve ser a falta de uma liderança baseada na confiança da parte dos bispos e uma tendência a assumir riscos. Pensam que os católicos em matrimônios irregulares após o divórcio deveriam continuar sendo excluídos da comunhão? Pensam que a Igreja deveria continuar insistindo no fato de que o uso de contraceptivos é um pecado mortal? A mesma coisa se aplica àqueles que vivem em relações homossexuais?
O cardeal Vincent Nichols falou, no sínodo extraordinário, de gradualidade e da possibilidade de que os católicos divorciados e redesposados possam ser readmitidos aos sacramentos no final de um longo e empenhativo percurso penitencial. Que utilidade tem isto para um católico que vive numa destas situações? Como os bispos sabem muito bem, muitas pessoas não esperam mais nenhuma resposta e decidem por si mesmas se podem receber a comunhão. Quem pode censurá-los, se um padre numa paróquia lhes diz uma coisa e o padre da paróquia vizinha diz o contrário?
É chegado o momento em que o cardeal Nichols, enquanto presidente da Conferência episcopal, diga claramente qual a sua posição, como fez de maneira eloquente sobre problemas como a insuficiência dos amortizadores sociais e a perseguição dos cristãos. Os seus “colegas” cardeais, como na Alemanha Reinhard Max, falaram com coragem sobre temas como a comunhão para os divorciados redesposados. Uma clareza deste tipo, também na Inglaterra e em Gales, é o mínimo que se deveria esperar.
The Tablet, 23-04-2015.
*Tradução é de Benno Dischinger.

Nenhum comentário:

Postar um comentário