sábado, 29 de abril de 2017

Com Natalie Portman, "Além da Ilusão" se perde em seus excessos

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“Além da Ilusão” é um filme sobre uma dupla de irmãs americanas que viajam pela Europa.
Cena do Filme
Cena do Filme "Além da Ilusão". (Reuters)
Por Alysson Oliveira

Ambição, para um filme (ou até para a vida), não é, a priori, um defeito. O problema é perder a medida dela, como dolorosamente se vê em “Além da Ilusão”, escrito e dirigido pela francesa Rebecca Zlotowski, cujos ótimos “Belle Épine” (2010) e “Grand Central” (2013) a colocaram no mapa-mundi do cinema e do circuito do festivais.

Seu novo trabalho, o mais ambicioso em escopo e orçamento – contando com Natalie Portman, no papel principal – frustra exatamente porque o potencial que a diretora demonstrou nas outras obras se dissipa num caos narrativo e de temas.

“Além da Ilusão” é um filme sobre uma dupla de irmãs americanas, Laura (Natalie) e a caçula Kate Barlow (Lily-Rose Depp), que viajam pela Europa do entre-guerras ganhando dinheiro com seus poderes mediúnicos.

O filme também é sobre a magia do cinema enquanto arte e técnica, além de aspirar a ser uma crônica sobre a alienação da elite europeia que permitiu a ascensão dos regimes totalitaristas. Além disso, é um estudo sobre os laços que unem essas duas irmãs e os fantasmas do passado de seus clientes. E tudo isso em menos de duas horas!

O filme começa muito bem com Laura e Kate fazendo uma sessão para uma sala lotada, com algumas pessoas interessadas em contatar entes queridos que morreram. A mais velha é uma espécie de mestre de cerimônias, guiando o espetáculo, cuja estrela central é Kate com seus dons mediúnicos, que chamam a atenção de Korben (Emmanual Salinger). Rico polonês radicado na França, com fantasmas para exorcizar, ele leva as duas para morar na sua mansão.

Korben também convence as irmãs a se deixarem filmar por câmeras de cinema enquanto realizam suas sessões. Mas isso não é tão simples. Cinema é, na época, uma arte em ascensão, dependendo muito dos avanços tecnológicos para se tornar mais livre. O excesso de refletores, por exemplo, é um empecilho para as americanas realizarem seus transes. Nesse momento, “Além da Ilusão” está interessado no cinema, na sua técnica e limitações, levando um tropeção do qual jamais se recupera.

Não que a diretora, com seu filme, também não esteja interessada no cinema enquanto arte e técnica, até porque, em seus trabalhos anteriores, a trama era também, acima de tudo, uma base para a construção de um clima e uma poética. Ainda assim, é preciso um fio condutor que não deixe uma aparência de conexão aleatória, como é o caso aqui.

Não custa muito e Laura torna-se uma atriz de cinema, tentando subir na vida e sendo hostilizada anonimamente por colegas com xingamentos de batom no espelho. Korben também está sendo atacado por ser estrangeiro e judeu. “Além da Ilusão”, por sua vez, luta para manter alguma coerência e coesão, mas não é fácil.

Apesar da bela direção de arte, não há muita atmosfera de uma Paris dos anos de 1930 – o filme poderia se passar em qualquer outra época. Natalie desfila feições de incrédula o tempo todo – talvez realmente nem ela entenda o arco de sua personagem. Lily-Rose Depp (filha da atriz e cantora Vanessa Paradis e Johnny Depp), no entanto, parece se encontrar no filme, até porque sua personagem faz mais sentido do que a de Laura. Sua interpretação, algo meio etérea, algo que não é deste mundo, tem até um quê daquela de sua mãe em “A mulher e o atirador de facas” (99). A jovem atriz parece estar num filme completamente diferente dos outros intérpretes e personagens, o que é uma pena: se todos estivessem no mesmo filme que ela, “Além da Ilusão” seria melhor.

Clique aqui, confira o trailer e onde o filme está em cartaz na Agenda Cultural do DomTotal!


Reuters

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