segunda-feira, 31 de julho de 2017

Santo Inácio, guia-nos a falar pelos outros!

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Francisco se apoia nos fundamentos de Santo Inácio de Loyola e da "Companhia de Jesus" em suas origens para nos convidar a ver o mundo como nossa própria casa.
Espiritualidade Inaciana inspira ao cuidado de nossa casa comum, a Terra.
Espiritualidade Inaciana inspira ao cuidado de nossa casa comum, a Terra. (Reprodução)
Por Alex Mikulich

Na festa de Santo Ignácio de Loyola, celebrada neste 31 de julho, é frutífero refletir sobre as palavras sábias do Papa Francisco em outubro de 2016, durante a 36ª Congregação Geral da Companhia de Jesus, evento que decide os rumos desta Ordem Religiosa. O Papa nos convida a retirarmos a atenção de nossas próprias necessidades para vermos a de toda a criação de Deus. Precisamos da sabedoria de Francisco e de Inácio para tratarmos a desunião entre nós nestes tempos problemáticos.

Francisco se apoia nos fundamentos de Santo Inácio de Loyola e da "Companhia de Jesus" em suas origens para nos convidar a ver o mundo como nossa própria casa. Nesta "casa do mundo", nossa tarefa comum deve ser uma colaboração entre irmãos pelo "proveitoso benefício" de todos.

Inácio primeiro procurou pessoas que eram sedentas pelo bem do próximo, especialmente o bem dos mais vulneráveis. O papa e Inácio nos lembram como o amor de si, ao próximo e a Deus estão profundamente e inextricavelmente ligados um ao outro.

No entanto, a condição da possibilidade desse trabalho comum parece estar ameaçada pela atual presidência e Congresso estadunidenses. O trabalho comum em favor do próximo é desgastante porque muitos americanos parecem ser consumidos pelo interesse próprio à custa do bem de todos.

Exemplos de nossa falta de percepção sobre nossa atuação e situação comum são inúmeras. Um exemplo é uma pequena comunidade cristã em Michigan, orgulhosa de ter ajudado o estado a eleger o novo presidente. Os cristãos caldeus no sudeste de Michigan depositaram seu apoio no candidato republicano à presidência, que prometia proteção aos cristãos que fogem da violência no Oriente Médio. Ao contrário disso, eles descobriram que os funcionários da Imigração e da Alfândega estão derrubando suas portas e prendendo seus entes queridos.

Todos nós devemos ficar assombrados com as palavras de Nadine Yousif, advogada da CODE Legal Aid, uma organização local de Michigan que coordenou a resposta aos ataques da ICE (Imigração e fiscalização aduaneira). "Todos pensaram que isso não poderia se aplicar a nós", disse ela.

O comentário de Yousif me faz recordar do famoso poema do Pastor Martin Niemöller "Primeiro eles vieram"1. Talvez cada um de nós reescreva o poema de Niemöller sob a inspiração de Francisco e Inácio.

Aqui está a minha tentativa - os leitores certamente podem adicionar outras coisa a esta lista incompleta.

Primeiro vieram para os muçulmanos, mas como eu não era muçulmano, eu me calei. Então eles vieram para os trabalhadores rurais, mas me calei porque eu não era um trabalhador rural. Então vieram para os afro-americanos, mas nada falei porque eu não era um afro-americano. Então eles vieram para pessoas com deficiência, mas me calei porque não era uma pessoa com deficiência. Então vieram para os cientistas, mas me calei porque não era cientista. Então depois eles vieram para as pessoas lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros, e me calei porque não era uma pessoa LGBT. Então vieram para os judeus, e me caliei porque não era judeu. Então eles vieram para mim, e não havia mais ninguém para protestar por mim.

Depois, houve o caso da ADAPT, originalmente chamada de American Disabled for Public Transit, uma organização de direitos de deficiência de 43 anos que organizou uma manifestação no escritório do líder da maioria do Senado Mitch McConnell em 22 de junho. Eles colocaram suas vidas em risco para testemunhar que os cuidados de saúde – seus e os de todos os americanos - estão em jogo. Na manifestação estava claro que a proposta de cortes na saúde em trâmite no Senado é inconcebível por prejudicar os mais vulneráveis, incluindo crianças, idosos e milhões de pessoas que mal chegam ao fim. Cuidar dos mais vulneráveis ​​ não é só politicamente correto, é humano e cristão.

Este dia de festa de São Inácio de Loyola é um bom momento para pausar e refletir sobre o famoso poema de Niemöller à luz do chamado evangélico para amar nosso próximo. Nós olhamos para o mundo como nossa casa comum onde trabalhamos juntos para o bem de todos os nossos vizinhos? Percebemos como o amor ao próximo, a si mesmo e a Deus estão inextricavelmente entrelaçados? Nunca em minha vida experimentei uma ameaça tão profunda ao trabalho comum pelo próximo, e esta nasce nos bastidores do mais alto poder.

Nem Mateus 25 ressoou tão profundamente: "Amém, eu digo para você, o que você não fez por um desses menos, você não fez por mim".

1 - Primeiro, os nazistas vieram buscar os comunistas, mas, como eu não era comunista, eu me calei. Depois, vieram buscar os judeus, mas, como eu não era judeu, eu não protestei. Então, vieram buscar os sindicalistas, mas, como eu não era sindicalista, eu me calei. Então, eles vieram buscar os católicos e, como eu era protestante, eu me calei. Então, quando vieram me buscar... Já não restava ninguém para protestar.

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National Catholic Reporter
Tradução: Gilmar Pereira

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